quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Crônica #24: Family Meeting

Well, após o recesso de Final de Ano, cá estamos de novo, com mais um capítulo dessa emocionante história! (SessãodaTardefeelings xD) Enfim, apreciem! =***


Já na saída da igreja, após tomar o elevador de volta, eu já quase não podia esconder o meu ódio amargor. Meu semblante traía o sentimento guardado dentro de mim naquele momento. Foi Sophia que me fez libertá-lo em palavras:

_Mika... Está tudo bem..?

_Claro que não está, Sophy! Viajamos de tão longe, por uma pista falsa, e quase morremos nas mãos de uns imbecis, perseguindo uma pista falsa! Eu só queria que isso terminasse logo..._desabafei, um tremor de ódio percorrendo minha bochecha esquerda.

Entrei no carro em silêncio, e assim permaneci, tentando encontrar um sentido, uma resposta. Pela primeira vez me senti exausto, sem forças. Sophia sentou-se ao meu lado e me abraçou em silêncio, enquanto Roberto dirigia de volta para a casa de meus avôs.

Ao passarmos por um pequeno trecho de auto-estrada no caminho de volta, um engarrafamento se formava a nossa frente. Aparentemente, ocorrera um acidente em algum ponto a nossa frente, o que dificultava o fluxo de veículos. Após alguma lentidão, passamos ao lado do local do acidente. Havia uma ambulância, um carro de polícia e o próprio carro capotado, com duas figuras disformes, cobertas com um plástico preto. Engoli em seco.

_Que lástima... _disse Sophia, em voz baixa. Eu, quando vi o resultado do acidente, lembrei-me imediatamente do acidente fatal em que meus pais se envolveram, e senti uma grande dor no peito. Olhei novamente para aquelas figuras ocultas, e algo me chamou a atenção.

Uma mancha avermelhada se destacava no canteiro da estrada, parcialmente coberto pela neve. A forma totalmente simétrica de uma rosa-cruz estampava a neve, em sangue. Um segundo depois, o carro saiu do engarrafamento, e voltou a ganhar velocidade. A mancha, vívida em minha mente, talvez fosse apenas uma ilusão, como em um teste de Rorschach. Ou talvez fosse um sinal, um convite.

_Professor, pegue a próxima saída a direita, na estrada. Vamos pra outro lugar!_disse, saindo do antigo torpor. Se aquilo fosse um sinal, sabia exatamente pra onde ir. O cemitério onde meus pais estavam enterrados.

Pouco depois de sairmos da auto-estrada, e já explicada a súbita mudança de rumo, estávamos seguindo por uma rua pouco movimentada, quando à esquerda destacava-se um longo muro branco. Paramos próximo a um enferrujado portão de ferro, e sem demora, entrei, seguido por Sophia. Roberto, após um sinal-da-cruz, entrou, e seguimos em frente, pelo corredor principal.

Ao longe, avistei a humilde sepultura de meus pais. Caminhei sem pressa até lá, me ajoelhando ao chegar a frente da lápide bem cuidada. O mármore ainda reluzia, e flores brancas despontavam aqui e ali, no gramado. Sempre era fácil reconhecer, pois eu mesmo plantara aquelas flores, as favoritas de minha mãe. Fechei os olhos e fiz uma curta oração, virando-me em seguida para Sophia, que apenas observava.

_Vamos, pelo jeito não tem nada aqui, também.

Quando demos as costas para a lápide, uma voz doce chamou:

_Você demorou a chegar, Mikazinho...

Virei e vi uma garota jovem, de cabelos negros longos, sentada sobre a pedra de mármore. Tinha um sorriso dissimulado nos lábios, que se abriu mais quando cruzei olhares com ela.

_Você tem exatamente os mesmos olhos dele, sabia? Só a aparência que é mais nova... uma gracinha!_disse ela. Tinha uma voz melodiosa e infantil, e vestia-se com uma saia branca com pregas, e uma blusa simples, igualmente branca. Olhava para ela, irredutível. Sophia apertou minha mão junto as suas, um pouco mais forte que o normal. Após raciocinar um pouco, perguntei:

_Afinal, quem é você, e de quem está falando?

_Ele tem te esperado chegar! Ficou chateado por não ter vindo visitar seus pais logo, ao invés de ficar andando em círculos por aí._a garota disse, dando um risinho debochado. Avancei, tentando me aproximar. Já estava sem paciência para discursinhos ou brincadeiras. Queria chegar logo a resposta daquilo tudo.

A garota pôs-se de pé sobre a lápide com um pulo, e disse:

_Bem, ele está a sua espera, então melhor não se atrasarem..._em seguida pôs o indicador e o polegar nos lábios e assobiou um som estridente, porém melodioso.

Tão logo ela tirou os dedos dos lábios, o chão sob nossos pés começou a tremer, como se algo estivesse cavando para cima. Subitamente, mãos sujas de terra, esqueléticas e cadavéricas, agarraram nossos tornozelos com força, nos imobilizando.

_Mas o que..?_Exclamei, olhando assustado para a menina, que mantinha o doce sorriso nos lábios. Disse, piscando um olho:

_Nos vemos lá, gracinha!

Ela permaneceu parada, porém nós começamos a nos mover para baixo. As mãos nos puxaram com força para baixo da terra, por três buracos distintos. Fechei os olhos e chamei por Sophia e Roberto, e ouvi suas vozes distantes, ecoando embaixo da terra. Logo porém me calei, depois que um pouco da terra entrou em minha boca. Mantive os olhos fechados durante toda a viagem, que durou um tempo incontável, e ao mesmo tempo foi muito rápida.

Fomos jogados os três juntos em um largo túnel, em frente a uma grande porta dupla. Ao olharmos para trás não vimos mais sinal das terríveis mãos que nos trouxeram, além dos buracos por onde tínhamos sido lançados. Dei de ombros após sacudir a terra das roupas e do cabelo, e disse:

_Bem, parece que somos mesmo esperados... melhor irmos..._e avancei para as portas, a paciência há muito esgotada. Às minhas costas, Roberto disse:

_Por que sempre temos que vir parar embaixo da terra?

Sophia suspirou, exausta, enquanto eu empurrava a porta pesada com ambas as mãos. Lá de dentro, uma grande e inesperada claridade nos cegou por um momento, e o som do canto de pássaros invadiu nossos ouvidos. Uma voz familiar então clamou, tranqüila:

_Sejam bem-vindos, crianças. Sintam-se a vontade, enquanto termino de cuidar das plantas.

Quando me acostumei com a claridade novamente, vi de quem era a voz. Um homem alto, pouco mais velho que eu regava alguns vasos com plantas frondosas. Raios de sol vespertino entravam por um quadrado de vidro, colocado no teto, sobre as plantas. O resto da luz, mais clara, não tinha fonte específica à primeira vista, mas estava mais interessado na figura abaixada sobre as plantas.

Vestia-se com uma roupa simples e longa, totalmente branca, como boa parte do ambiente. Suas roupas destoavam muito de seus cabelos negros, e quando virou-se para nós, o choque foi terrível.

Tinha a minha forma, mais sério e austero. Mais experiente e com certeza, ainda mais depois de eu ter descido pela terra, mais limpo. Seus olhos, diferente dos meus, eram de tonalidade mais clara, e não traíam qualquer emoção. Deixou o regador de lado e disse, fazendo uma breve reverência:

_Muito prazer, crianças. Eu sei que estiveram procurando por mim. Pois bem, aqui estou. Sou Christian Rozenkreuz.

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