sábado, 27 de março de 2010

Crônica # 32: Grief

Tcharam! Ansiosos por esse capítulo? Espero que sim! ;)

Sem muito blablabla, só agradecemos a todos que acompanharam isso desde o início. Saibam que fizemos o possível pra entreter todos vocês, e espero que tenhamos sido bem sucedidos nessa empreitada. Mas não se preocupem, isso é só o começo!! :3

Sem mais delongas, deleitem-se!! =**


Meus olhos se turvaram no momento em que o sangue molhou o chão. O brilho da loucura nos olhos de Christian tornava-o ainda mais assustador. Minha noiva jazia inerte nos braços de seu algoz, um tremor cruzando minha face, num misto de dor e ódio pela impotência ali, preso firmemente por Elizabeth. Respirei fundo e, com um grito desesperado:

_Roberto, acabe com ela!

Senti então o sangue quente escorrendo por minhas costas, minha captora soltando com facilidade minhas mãos. Assenti para Roberto, que cravara minha espada nas costas de Elizabeth, atravessando seu peito. Peguei de volta minha espada, e fui de encontro aquele que destruíra minha vida.

_Afaste-se dela, demônio!_disse, brandindo a espada em sua direção. Christian sorria, ao largar o corpo de Sophia no chão, afastando-se alguns passos. Caí de joelhos, ao lado de minha noiva, o desespero me consumindo por dentro. Ouvi a voz de Christian, distante e suave:

_Vamos, meu filho... Tome aquilo que lhe pertence. Aquilo que lhe foi dado sem hesitação. Tome do coração que te Amou o dom supremo. A imortalidade é sua!

Segurei com firmeza o cabo de minha espada, a face oculta por sombras. Sem raciocinar ou ao menos ouvir o que meu ancestral tinha para dizer, perfurei meu pulso com a lâmina, e derramei sobre os lábios de Sophia o líquido vital.

_Acorde, por favor, acorde... Sophy, se for pra ser assim, eu prefiro que não seja...

Olhei então para Christian, resoluto. Meu ancestral me olhava com repulsa, e leve surpresa, vendo o sacrifício de meu corpo. Sustentei seu olhar reprovador por algum tempo, até que senti uma dor aguda e muito bem vinda no pulso.

As presas de Sophia entraram fundo em minha carne, e sugavam meu sangue em grandes sorvos. Sorri de alívio, mesmo sentindo a tontura causada pela falta de sangue, e a dor intensa em minha pele. Joguei minha espada a um canto, para que pudesse amparar a cabeça de minha noiva, que buscava o meu sangue, quase que desesperadamente. Fechei os olhos, a fraqueza tomando conta de mim. Sussurrei, fitando seus olhos vermelhos, selvagens:

_Tome o quanto desejar, meu Amor. Sem você, eu não preciso mais disto.

Pouco a pouco, ela foi recobrando a consciência, e ao dar-se conta da situação, soltou as presas de meu pulso, as lágrimas descendo por suas bochechas. Perguntei, reprovador, mas carinhoso.

_Sua boba... O que deu em você para agir dessa maneira?

Antes que ela pudesse responder, ouvimos a voz de Christian, fria e insana:

_Realmente, uma bela demonstração de Amor! Mas aça que ainda vão sair vivos daqui? Você me decepcionou, meu filho. Não merece ter nas veias o sangue que déia você! E você, por ter matado minha pequena Elizabeth...

Ao virar-me para ele, Christian segurava minha espada em uma das mãos, e com a outra, cobria a boca de Roberto. Sem qualquer chance de reação, deu um corte reto pelo pescoço de nosso companheiro, matando-o automaticamente. Engoli em seco, mal acreditando no que vira. Sophia, apertava minha mão, assustada.

_Maldito!_levantei-me, em uma raiva cega, e fui de encontro a ele, mesmo desarmado.Cambaleei, ainda enfraquecido com a falta de sangue, mas segui, decidido a destruí-lo.

Não serei assim tão covarde com o meu descendente._disse Christian, lançando a espada ao chão, no caminho entre nós. Peguei-a, ainda escurecida com o sangue. Estoquei velozmente, em sua direção. Antes que o atingisse, porém, uma tosca barreira de pedra se erguera em meu caminho. Por trás da construção, ouvi a voz de Christian:

_Você parece ter se esquecido de quem eu sou, garoto! Sou o maior mestre em alquimia no mundo. Nada é impossível para mim! Desista, e eu darei a você uma morte digna e indolor...

_Se há alguém aqui que vai morrer, esse alguém é você, desgraçado!_ respondi, saindo do quarto de Sophia, em perseguição. Minha noiva me alcançou, com sua adaga em uma das mãos, e a de Roberto na outra. Assenti silenciosamente, enquanto descíamos as escadas, na direção do laboratório.

Seguimos um apressado Christian, até o seu amplo escritório, onde há apenas algumas horas via uma demonstração do poder de meu ancestral. Ele agora perdera toda a austeridade anterior. Um largo sorriso na face, os cabelos bagunçados, o brilho da loucura no olhar. Com um estalo de dedos, as pedras da parede lateral se abriram, e de trás dela saiu uma criatura estranha.

_Venha minha quimera, esmague esses peões. Não preciso mais deles!_gritou Christian para o animal, uma mistura de leão e réptil, que rugiu, se preparando para avançar sobre nós. Fiquei em posição de guarda, prevendo o ataque da feroz criatura, que agora corria para nós, saltando, a boca aberta, capaz de arrancar minha cabeça com facilidade.

Abaixei-me sob seu pulo, e cortei-lhe o ventre com um só golpe. Parecera bastante fácil, o que era estranho. A criatura resfolegou, caída de lado. Porém, quase que automaticamente, os ferimentos começaram a se fechar, e a besta ergueu-se mais uma vez. Olhei de esguelha para Rozenkreuz, que tocava sua escrivaninha com a ponta dos dedos, observando a luta com um prazer doentio no rosto. A criatura recuou, e preparou um novo bote, desta vez visando minha noiva.

Ao tentar correr para ajudá-la, percebi a armadilha preparada por Christian. Meus pés não se moviam, e então notei que as pedras do chão me prendiam, imóvel. Ao que Sophia disse:

_Mika, meus pés estão presos!

Um segundo de pensamento, e decidi tirar os tênis. Christian não conseguiria manipular minha pele, afinal. Antes que pudesse alertar Sophia, vi o animal saltando, na direção dela, como fizera comigo, antes. Minha noiva arqueou as costas para trás, desviando do ataque da fera. Antes que pudesse se recuperar do ataque, Sophia se livrou dos sapatos e saltou sobre as costas do animal, decapitando-o com ambas as facas.

Virei para um consternado Christian, com a espada em punho. Avancei para ele, desejando por sua destruição. Cortei o ar, na direção de seu rosto, porém fui parado por sua própria espada, recém criada. Iniciamos então um duelo frenético, meu ancestral bloqueando meus golpes com facilidade.

_Pobre de ti, Mikhail, tendo de ser desperdiçado assim..._disse Christian, ao tentar me atacar, mas encontrando o bloqueio de minha lâmina.

_Eu ainda não perdi, “tio”._respondi com ironia, tentando encontrar uma brecha em sua defesa.

_Mas vai perder, por ter cometido um erro primário!

_Do que está falando?

_Você usa a minha espada sem minha autorização!_disse ele, e então, num golpe certeiro, partiu a lâmina de minha espada, e perfurou-me o ombro. Gemi de dor, a espada inutilizada caindo aos meus pés. A dor lacerante anuviava minha mente, e me levou a outro local...

Um senhor bem vestido jazia amarrado a uma parede, me olhando com raiva. Gritou, quando me aproximei:

_Maldito sejas! Seu manipulador, mentiroso!

_Sua ambição foi a sua queda, meu mestre... Eu disse a você que possuía a fórmula, apenas para atraí-lo até aqui. O senhor tornou-se um obstáculo para mim, com a sua ética e seus valores. A ciência deve prevalecer, sobre todas essas coisas!

_Criança tola, o que pretende fazer comigo?_o velho se debatia, impotente. Dava para ver que ele já esperava o destino que havia preparado para ele.

_O seu conhecimento tem um grande valor, e por conta disso, pouparei o seu cérebro, mestre. Porém, o resto de seu corpo é mera carcaça inútil._ao dizer isso, saquei um punhal da cintura, e preparei-me.

_Que a sua ambição também seja paga com a sua vida! Que o teu próprio sangue seja a sua queda, Chris...

_...tian Kreuz, o maior de todos os alquimistas!_completei, ao cortar-lhe a garganta._obrigado por sair do meu caminho, meu mestre. Ou talvez eu devesse dizer meu pai...?

Voltei à realidade, ainda sentindo a dor terrível da perfuração no ombro, e o frio chão sob meus pés descalços. Este novo ferimento causava ainda mais tontura. Christian ria, alucinado:

_Veja só, que vergonha! Mikhail, um jovem brilhante e promissor, capaz de grandes feitos, mal conseguindo parar em pé. Este é o seu fim, criança insolente.

E, erguendo sua espada sobre a cabeça, segurando-as com as duas mãos, meu ancestral preparava-se para o golpe final. Subitamente, um tremor sacudiu o chão.

De ambos os lados de meu inimigo, surgiram duas estacas de pedra, que se cruzaram através das mãos de Christian, perfurando-as, e mantendo-as unidas. Soltou então um grito alucinado, como se não sentisse a dor física há muito tempo. Olhei para trás, e vi Sophia, de joelhos no chão, um símbolo pintado à sua frente com o sangue da fera assassinada, um livro aberto ao seu lado. Ela encontrou meu olhar e disse, sorrindo:

_Alquimia é realmente uma ciência fantástica!_e, com uma expressão mais grave._agora acabe de uma vez com isso, querido..._lançou-me a adaga de Roberto, já sem o sangue da criatura maligna. Aproximei-me de Christian, que tentava lutar inutilmente, suas mãos sem forças para realizar um processo alquímico.

_O seu mal acaba aqui, Rozenkreuz. Faço agora a justiça, que há muito suas vítimas desejam._falava com calma e frieza. Meu ancestral rebateu:

_Seu idiota, não percebe que não há como me matar? Eu sou Christian Rozenkreuz, o imortal, o supremo!

_Você é somente um humano que já viveu demais. Ainda dói quando se fere, ainda sangra quando se corta._apontei para suas mãos inertes, perfuradas pelo poder que por tanto tempo cultivara. As estacas, tingidas de carmim, fez com que uma sombra de sanidade tocasse sua face, quando realizou sua delicada posição. Segurei-lhe o ombro e disse:

_Boa sorte, Christian Kreuz. Faço valer a maldição proferida por seu pai. Que o teu próprio sangue seja o teu fim._fiz um pequeno furo em meu dedo, com a adaga de Roberto, por onde um fino fio de sangue escorreu, sujando novamente a lâmina. Christian, antes de ter sua sentença cumprida, falou, numa voz franca:

_Me perdoe, Mikhail..._e a lâmina entrou em sua carne, sem encontrar resistência, como se meu sangue fosse um forte ácido. Perfurei seu coração num movimento suave, e no mesmo momento, os anos passaram a correr para meu inimigo em uma velocidade enorme. O tempo cobrou seu preço, consumindo todo o seu corpo em questão de segundos. Era o fim de Rozenkreuz.

A espada que ele segurava nas mãos despencou no chão, assim como eu, já muito enfraquecido. Senti Sophia me erguer e me arrastar para fora dali. Ergui-me, e subi as escadas, abraçado a ela. Levamos dali apenas a espada de Rozenkreuz, e o livro usado por minha noiva. Percebemos, ao voltar ao saguão, que a mansão já não tinha vida. Envelhecera como o próprio Christian, e estava em alto grau de degradação. Sophia, já a porta da velha casa, perguntou-me:

_O que faremos, Mika? O corpo de Roberto ainda está lá em cima. Acho que deveríamos ir buscá-lo, e dar um funeral digno para ele.

_Não, Sophy. Coloque isso nas mãos dele, e faremos um funeral a moda antiga. Vamos queimar esta casa, pois ainda há muita maldade aqui dentro. A casa de Christian Rozenkreuz, com todo o seu conhecimento, será a pira do professor Roberto._entreguei-lhe a adaga de Roberto, e esperei que Sophia voltasse.

Pouco tempo depois, colocamos fogo no subsolo da enorme mansão, e ao longe, enquanto caminhávamos de volta ao cemitério, podíamos ver a luz das chamas subindo ao céu noturno. Com a lua alta, chegamos de volta ao carro de meus avós. Sophia me colocou sentado no banco do passageiro, e sentou-se no banco do motorista.

_Me desculpe, Mika... Eu não imaginava... Christian me convenceu de que seria o melhor para você... _Sophia começou a dizer, mas eu a silenciei, abraçando-a firmemente com o braço são.

_Eu buscava a imortalidade por você, Sophia. Para que eu pudesse estar com você sempre, e não precisasse te causar dor, depois que eu me fosse. Mas, se o único jeito for perdendo você, eu prefiro morrer imediatamente._eu disse, afagando seus cabelos._Eu Amo você, mais do que a própria vida. E para sempre te Amarei, mesmo depois do fim de meu corpo...

Sophia retrucou, olhando em meus olhos, um leve sorriso nos lábios:

_Façamos diferente, meu querido. Ao invés de haver um sacrifício para que você se torne imortal... Quando chegar a sua hora, eu prometo sacrificar a minha imortalidade, para que possamos caminhar juntos, até no outro mundo.

_Então, que assim seja, Sophy, meu Amor._e, tocando seu queixo, beijei seus lábios apaixonadamente.


O legado de Christian tinha chegado ao fim, e eu desistira da imortalidade. Aproveitaria todos os anos de minha vida, ao lado de Sophia. Mesmo que não pudesse passar a eternidade do corpo ao lado da mulher que eu Amo, passaria então a eternidade da Alma ao seu lado. Mas este não é o fim da história, e sim apenas o início.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Crônica #31: Apathy

E aí, pessoas? Escrevendo na instiga! Agora, o finalzinho da saga Kreuz... Só mais um capítulo (que o Al fará a caridade de escrever assim que possível). Este, então, é o penúltimo capítulo da saga. É ler ou... Morrer na curiosidade! Apreciem com moderação ;x



Sentada em meu quarto, olhava as árvores e pássaros piando através da janela. Usava um vestido branco, com traços vitorianos, que me foi dado por Elizabeth. O silêncio anormal na casa, somado ao fato de Christian ter finalmente chamado Mikhail para uma conversa em particular apenas agravava, em minha cabeça, a sensação de que algo estava para acontecer.
Mikhail... Ele não pareceu, nem por um momento, perceber a angústia que se abatera sobre mim desde a noite anterior. E eu decidi que seria melhor assim. Se o que Christian falou fosse verdade, eu enfrentaria de cabeça erguida. A ilusão me fez feliz enquanto durou, e esse seria o preço a se pagar pela felicidade efêmera de nosso tempo enquanto noivos. No fim, talvez esse fosse desde sempre o meu destino: morrer, como todo Von Klaus, por seus ideais. Sem arrependimentos.
Foi então que ouvi barulhos lá fora. Alguém correndo, objetos caindo e se espatifando no chão, e, antes que pudesse concluir a razão de tanto movimento, virei-me para a porta e vi o próprio Christian me olhando, o semblante sereno.

- Como entrou aqui? A porta estava fechada - falei com certa frieza, mas já sabendo a resposta.
- Tenho meus próprios dons, herdados de minha amada esposa. Deve saber melhor o que aqueles de seu povo podem fazer. Mas agora... - ele se aproximou calmamente, e me tomou pela mão. Levantei sem me opor - É chegada a hora. É uma boa menina... Prometo que serei rápido, para que não tenha tempo de sofrer.

Ouvi então batidas fortes na porta, e alguém arfando do outro lado.
- Sophy? Sophy! Está me ouvindo? Abra! Vamos embora daqui! Agora!

Mikhail... Estaria ele tentando continuar a me enganar? Fingir até o final? Já não me importava mais. Apenas sorri de forma triste, enquanto Christian passava um dos braços pela minha cintura, gesticulando com o outro em direção à porta.

- Vamos reunir todos aqui... Todos prestigiando o meu filho.

A porta abriu-se com um clique, e Mikhail avançou por ela, seguido por um perplexo Roberto. A expressão dele era de transtorno, que se converteu em medo, ao me ver acompanhada de seu antepassado. Tinha a espada em mãos, e percebi que apertava-lhe o punho com força. Logo o medo transformou-se em ira.

- Solte-a! Eu já falei, eu me recuso a fazer parte disso! Recuso-me a ser como você! Sophy... Lute! Vamos embora... Sei que pode se soltar dele...
- Eu não vou fazer isso... - e nesse momento, meus olhos se encheram de lágrimas - Não era o que você queria, desde o início? Ser imortal? Então aceite o meu sacrifício...
- Não... Sophia... Não assim. A única razão que me faria querer ser imortal é ficar com você. Sem você, isso não faz sentido! Eu... Prefiro morrer a vê-la ferida... Ou pior...
- Não, meine liebe... - as lágrimas finalmente rolaram pelo meu rosto, e eu sorri - Se é assim... Por que você escondeu de mim que tinha visões? Por que ficou distante desde que chegamos aqui...?
- Sophy... Eu não quis...!
- Pode parar de fingir. Eu já sei de tudo... E eu... Fui muito feliz, não me arrependo de nada que vivemos juntos. E no fundo... Eu continuarei a viver, dentro de você...

Vi uma lágrima escorrer pelo rosto de meu noivo. Ele parecia sofrer... Mas era tudo falso. Deveria ser. Pensei ter sentido Christian suspirar brevemente, mas ele não se abalou. Chamou Elizabeth, e esta apareceu das sombras, trazendo, em sua bandeja, uma adaga de prata pura cravejada de rubis, que formavam o símbolo da Rozenkreuz.

- Eu não vou deixar...! - Mikhail avançou em direção a nós, mas Elizabeth, sorrindo, fez um movimento com as mãos, e ele foi imobilizado. Debateu-se, mas parecia impossível soltar-se. Alquimia.
Christian inclinou-me em um de seus braços, e sorriu.

- Será rápido, meu filho. Em breve irá se acostumar e apreciar a imortalidade. Seremos uma linda família! - E o sorriso alargou-se sadicamente, enquanto levantava a adaga acima de mim. Por um breve momento, sorri, olhando para aquele que eu amava.

"Adeus... Meu amor. Eu te amarei... Para sempre. Por toda a eternidade que eu puder te oferecer..."

Fechei os olhos, nos momento em que senti o metal frio perfurar-me o peito. Tudo escuro. Não houve tempo de gritar.

Crônica #30: The Choice at Hand

Fortes emoções na reta final dessa incrível saga!! Ahem... u.u

Bom leitores, fiquem aí com mais um capítulo! =***


No café da manhã do dia seguinte, Sophia não parecia muito animada, nem inclinada a conversar. Imaginei ser apenas um efeito do tempo enclausurada naquela mansão sombria. Mas logo teríamos mais respostas, ou então iríamos embora daquele lugar, que transbordava melancolia.

Ao fim da refeição, Christian me chamou, para uma conversa particular em seu laboratório. Assenti, animado por finalmente ter aquela fatídica conversa. Minha noiva, porém, pareceu abalada com a decisão de meu antepassado. Mas não falou nada a respeito, apenas me beijou a testa e disse:

_Boa sorte com ele, querido._e então eu desci, ao sagrado reduto de Christian.

O chão e as paredes eram impecavelmente limpos, imaculadamente brancos. Até mesmo o cheiro lembrava vagamente o de um hospital, porém os inúmeros animais e plantas que haviam ali contrastavam com toda a alvura daquele ambiente. Aves exóticas, diferentes de qualquer outra vista no mundo. Animais aparentemente selvagens, porém dóceis e leais ao seu mestre e criador. Algo de deixar Darwin com os cabelos em pé! Adentrei aquele ambiente, e Christian me levou até uma pequena sala anexada, que misturava laboratório e escritório. Sentei-me em uma das cadeiras, e Christian sentou-se, de frente para mim.

_O que você viu na outra sala, meu jovem, é a razão de minha existência, o motivo pelo qual estudei a vida inteira. Mas tudo isso você já sabe, não é mesmo? Bem, veja o maior problema das criações alquímicas simples...

Em silêncio, vi o processo, rápido e preciso, mas ao mesmo tempo, perturbador. Christian pegou pequenos vidros com substâncias diversas, e ia jogando-os sobre a escrivaninha freneticamente. Pegou então um punhado de areia, e jogou sobre a mesa, tocando a mistura com a ponta dos dedos. Símbolos surgiram por toda a mesa, e daquela mistura surgiu uma criatura rastejando. Bípede e escurecida, deu alguns passos vacilantes, e desabou novamente, voltando a ser meramente uma mancha sobre a mesa.

Engoli em seco, nauseado por aquela cena. Fitei o rosto de Christian, imperturbável como sempre.

_Triste, não acha?_disse ele, impassível_ A vida na alquimia comum tem um prazo de validade muito curto. Minerais, pedras preciosas, qualquer outra coisa é eterna, como um diamante, exceto a vida... Mas eu mudei isso, como pode ver. Mas como? Um elemento externo...

Fez então a mesma mistura sobre sua mesa, porém fez um pequeno corte em seu dedo, derramando algumas gotas de sangue sobre os elementos da criação. Ao tocar a combinação, uma pequena ave nasceu, como se tivesse acabado de sair de seu ovo. Era branca como um cisne, porém ainda muito pequena para dizer exatamente sua raça. Deu alguns passos, vacilante, porém logo se firmou, e começou a bicar a superfície da mesa, buscando alguma migalha para comer. Christian gentilmente pegou o pequeno animal, e colocou-o no chão, onde ele logo foi buscar a companhia dos outros animais. Observei, curioso. Onde aquilo ia parar?

Christian, como que lendo meus pensamentos, trançou os dedos de ambas as mãos, e encostou-se sobre a mesa, me olhando. Tomei coragem e perguntei-lhe:

_O que quis dizer com essa demonstração, Christian?

_Não percebeu ainda? Só estou dizendo a você que, para atingir a imortalidade, você precisa de um elemento externo. Só assim a manipulação da vida pode dar certo! Foi o que aprendi, em tantos anos de pesquisa.

_Então, bastam algumas gotas de sangue, para que eu possa...?

_Não, meu garoto. A imortalidade é um tesouro maior do que qualquer outro. As gotinhas de meu sangue que usei com aquele animal são suficientes para que ele viva uns dois ou três anos, se muito. A imortalidade é uma dádiva muito maior, e portanto, um sacrifício maior é exigido...

_Que tipo de sacrifício? _ao perguntar, algo em mim já sabia a resposta.

_Um corpo imortal. O coração pulsante de uma criatura imortal... A vida de sua vampira é exigida para o sucesso do ritual! Você fez bem em trazê-la até este ponto. Poderemos fazer o procedimento quando você estiver disposto, meu filho.

Senti como se as presas de uma cobra tivessem fincado em meu coração. Empalideci, sentindo-me fraco e impotente. Não, teria de haver outro jeito! Levantei-me, tomado por uma força que até eu mesmo desconhecia, e disse:

_De jeito nenhum, Christian! Ela é a razão para estar em busca da imortalidade! Se eu tiver que perdê-la para que me torne imortal, prefiro eu mesmo morrer!

Christian levantou-se calmamente, e sem qualquer aviso, deu-me um tapa no rosto.

_Criança insolente! Você não pode ser chamado de Kreuz! Não é forte o bastante para sacrificar aquilo que mais lhe é valioso, para um bem maior! Você poderia ser grande, se estivesse disposto a pagar o preço! Você me envergonha, Mikhail!

Dei as costas e saí, não sem antes dizer para mim mesmo, em voz baixa:

_Maldito velho, e eu ainda pensei que ele poderia me dar alguma solução real. Vou chamar todos, e vamos embora daqui agora mesmo!

Mas Christian tinha ouvido meu sussurro, e possuía seus próprios modos de impedir os meus planos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Crônica #29: The Sacrifice

Oi, pessoas! O capítulo de hoje é especial, uma verdadeira bomba! Sim, senhores, estamos no ápice da história! Tomara que apeciem, trabalhei duro nele para fazê-lo o mais odiável possível *cof* escreveuemduashoras *cof cof* Enjoy! ;D


Andava lentamente pelo corredor, sozinha, a mente ocupada demais para reparar aonde meus pés me levavam. As anotações do diário de Christian paravam no dia 17. Dia da morte de Laura, segundo meu noivo havia dito. Mas havia mais. Os relatos mostravam que, dia após dia, o jovem cientista perdia sua sanidade, chegando ao ponto de desprezar vidas. Tudo em nome de um ideal. Uma "promessa".
Quando finalmente me dei conta, estava na porta de meu quarto. O sol acabara de se pôr, e eu decidira sair da biblioteca para pensar, enquanto Mikhail ficou para pesquisar um pouco mais. Nos encontraríamos novamente no jantar.
Tratei, então, de poupar um pouco de energia. Entrei no quarto, tomei banho e me preparei para o jantar. As 19h, desci para a sala, encontrando Christian e Roberto já à mesa, o segundo tagarelando alegremente, enquanto o primeiro apenas ouvia, interessado. Cumprimentaram-me com acenos, e eu apenas sorri, sentando perto deles.
Mikhail chegou logo após eu ter me sentado, e estava taciturno. Não olhou diretamente para nenhum de nós, apenas murmurou um cumprimento e sentou conosco. E assim foi o restante do jantar. Apenas Andolini e nosso anfitrião conversavam, e eu observava, quieta, o comportamento anormal de Mikhail. Ao fim da janta, deixamos Christian e nos reunimos novamente no quarto de Roberto.

- Ele é incrível, exatamente como eu pensava que fosse! - exclamou o pesquisador, satisfeito.
- Talvez seja... Mas não esqueça... - suspirei - Ele matou muitas pessoas. Pode estar fingindo. Pode ser louco.
- Não vejo nele traço algum de loucura. É um homem inteligente e perfeitamente são.
- Não sabemos o que aconteceu com ele durante tantos anos de reclusão - falou Mikhail, com um toque sinistro na voz - O ideal é manter a guarda. Agora vamos. Acho que já tratamos tudo por hoje.

Meu noivo beijou-me o rosto, e foi embora. Roberto me olhou torto.

- O que houve com ele?
- Eu não sei...

Despedi-me de Andolini com um sorriso triste, e fui para meu quarto.

Contemplava novamente o céu pela janela, e a lua alta indicava meia noite. Ou talvez mais. Ouvi, então, batidas suaves na porta. Elizabeth sorriu quando abri, e me entregou outra carta, indo embora em seguida. Abri o evelope. Outro pedido de Christian para me encontrar, no mesmo lugar.
Já em meu robe, apressei-me para vê-lo, encontrando-o ao pé da lareira, como da última vez. Ele sorriu, e me indicou a poltrona.

- Desculpe-me pelo que parece estar se tornando um mau hábito - ele sorriu gentilmente.
- Está tudo bem. Eu não estava dormindo.
- Suspeitei que não. Enfim... Apreciaram minha biblioteca?

Eu estremeci, mas não o suficiente para ser percebida. Como ele sabia...?
- Sim. Bastante ampla. Lembra muito a de minha casa.
- Claro. A excessão de alguns detalhes, como certos volumes de livros, eu presumo... - ele suspirou, parecendo cansado.
Eu o observei em silêncio, enquanto ele levantava de sua poltrona, e fitava a lareira. Nesse momento, eu podia jurar que vi algo mais em seus olhos.
- Sabe... - ele continuou, andando lentamente pela sala - Eu estou feliz. Havia muito tempo que eu não recebia visitas. E muito menos de um... "filho". Eu realmente o admiro por chegar a mim. Mas, mais do que isso... - Christian andou até as costas de minha poltrona, ficando atrás de mim - Eu o admiro... Por ser tão semelhante a mim. Por ter escolhido o mesmo caminho que eu escolhi.

Eu senti, pelo tom de voz, que Christian sorria. Mas não era o mesmo sorriso gentil de sempre. Respirei fundo, e fui direta.

- O que quer dizer?
Então, ele riu baixo. Estava se divertindo.
- Lembra como ele parecia estar sempre um passo além de vocês? Sempre sabendo aonde ir? - ele tocou meus ombros suavemente - Ele tinha visões. Visões causadas pela minha herança. Visões... Das minhas lembranças.

Senti meu rosto ficar ainda mais pálido que o normal. Então... Era isso? Por que ele escondeu isso de mim...?
Christian sorriu novamente. Aproximou-se de meu rosto por trás.

- Por que tão pálida...? Você não sabia...? Então... Deixe me falar-lhe mais um pouco - e então sussurrou - Eu decidi... Que vou ajudá-lo...

Reuni um pouco de coragem, tentando manter o controle. Não, ele não podia me ver abalada...

- Ajudá-lo?
- Sim - Christian afastou-se de mim, andando para a frente de minha poltrona. Curvou-se levemente, e passou os dedos pelo meu rosto, sorrindo. Seu sorriso se alargou, ao me sentir recuar - Você é tão linda... Linda como minha falecida esposa. E por que não seria...? Afinal... Vocês são da mesma espécie. Ambas... Criaturas de uma beleza... Imortal.

Senti uma pontada de dor no peito. As coisas começavam a fazer sentido. Um sentido macabro. Ele olhou de mim para a tela da esposa, suspirando.

- Estou apenas avisando, garota Von Klaus. Você terá o mesmo destino de minha esposa... Concederei ao meu filho o dom da imortalidade, e então... Seremos uma família - ele sorriu, olhando novamente para mim - Será minha recompensa. E você... É a peça chave para o nosso sucesso. Me surpreende que não tenha percebido antes. É tão inteligente... - e tocou meus cabelos, rindo. O medo deveria estar evidente em meus olhos - Mas foi tão facilmente ludibriada... Mikhail é mesmo, sem dúvida, meu descendente.

Incapaz de continuar ouvindo, levantei-me da poltrona de súbito, e corri de volta para o meu quarto, enquanto a voz de Christian ecoava em minha cabeça.
"Não nos entenda mal... Afinal, eu sempre amei a minha esposa. Mas algumas metas requerem alguns sacrifícios... E infelizmente, vocês foram nossas escolhidas...".

Fechei a porta do quarto, e desabei na cama, as lágrimas borrando minha visão. Não consegui dormir.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Crônica #28: Fading Memories

E aí galera! Mais um capítulo, este por acaso já estava pronto, eu apenas acabei não postando, por conta de uns problemas aqui em casa (reforma faz uma bagunça... x.x)

Enfim, fiquem com mais esse pequeno rabisco deste que vos fala! =**


Acordei mais cedo do que previra, ainda durante a noite. Nenhuma claridade entrava pela janela, e eu fitava o teto, esperando que o sono voltasse. Tarefa que logo se tornou impossível, minha mente trabalhando da maneira que estava. Não conseguia parar de racionalizar, tentar encontrar um dos muitos “porquês” que acumulávamos desde o início da viagem.

Pensei em ir ao quarto de minha noiva, porém acabei preferindo esperar a manhã, e deixar que pelo menos alguém dormisse tranquilamente. Passei a caminhar, de um lado ao outro, no escuro quarto. As horas transcorreram rápido, e quando percebi, uma faixa dourada cobria o horizonte. Sua luz logo invadiu meu quarto, timidamente, e eu me arrumei para o dia que nascia.

Quando o sol já ia alto, bati na porta de Sophia, que prontamente atendeu. Beijei-a suavemente, desejando-lhe um bom dia. Ela sorria pra mim, porém sentia um certo distanciamento. Preferi não perguntar, deduzindo ser por conta de todas as coisas que aconteceram. De fato, até eu mesmo estava cansado, transtornado, porém ainda assim, muito curioso. Descemos ao grande hall, para o café da manhã.

Christian nos aguardava na sala de jantar, austero e pleno, como de costume. Roberto se sentava à mesa com ele, e quando cheguei com Sophia, conversavam amenidades. Aparentemente Roberto também não dormira bem naquela noite. Ao nos cumprimentarmos, sentamos à mesa e nos servimos tranquilamente, até que nosso anfitrião disse:

_Sei que todos têm assuntos a esclarecer comigo, porém eu gostaria de falar com cada um de vocês em particular. Hoje vou começar com o jovem pesquisador, Roberto._disse ele, apontando para Andolini, que aparentemente, estava radiante.

Sorri e assenti para ele, apesar da crescente ambição em meu peito. Me sentia estranho, com uma inveja súbita. Porém, mesmo assim me contive, pensando na possibilidade de se mais um teste de Rozenkreuz. Então apenas calei-me diante de sua escolha. Christian prosseguiu, talvez percebendo meu desconforto:

_Mikhail e Sophia tem o dia livre. Fiquem a vontade para conhecer a casa, apenas evitando entrar em meu laboratório, por favor. Qualquer dúvida, deixo Elizabeth à disposição de vocês. Agora, se nos dão licença...

Levantou-se e saiu corredor afora, com um satisfeito Roberto em seus calcanhares. Dei de ombros e saí com Sophia, para o único lugar que nos interessava, ali: A biblioteca de Christian. Pedimos a Elizabeth que nos levasse até lá, e começamos então a buscar indícios que expandisse os rumos de nossa investigação. Não sabíamos, porém, o que procurar.

Em algumas das prateleiras havia livros religiosos, desde o Sefer Yetzirah, da Kabbalah, até a Bíblia sagrada, em diferentes idiomas e interpretações. Em outras, compêndios e tomos de manifestos sobre política, filosofia e religião. Desde Marx e Platão até Charles Manson e Alester Crowley, a biblioteca parecia se estender por toda a história da humanidade.

Avaliando os livros de certa prateleira, Sophia pareceu intrigada, e me chamou. Lá, percebemos, todos os livros possuíam uma mesma caligrafia, rebuscada, bem feita. Atendo-nos ao conteúdo, encontramos apenas um assunto: Alquimia. Desconfiados, deitamos no chão da biblioteca com alguns livros daquela prateleira, pegos a esmo, e passamos a estudar seu conteúdo.

_É estranha a diferença do discurso com a aplicação. Veja este, por exemplo: “Imagine-se com a capacidade de moldar o mundo a seu bel-prazer. Esse é o objetivo da alquimia, tornar-nos mestres da realidade, através da fé e do aço, através do fogo e da água. Cultivar a ciência sagrada, a fé maldita. É para isso que existe Rosa-Cruz. Trazer de volta à luz o conhecimento enterrado pelas novas crenças. Recuperar o poder puro, colocando-o em harmonia à natureza. Rosa-Cruz é permitir, iluminar, tornar a unidade em todo, e o todo, em unidade.”_recitou Sophia, grave._Bastante messiânico, não acha?

_Sim, mas contradiz a prática desse outro livro. Este parece ser o resultado de alguns dos testes feitos por ele. Trata desde fontes de energia completamente limpas e construção de grandes edifícios apenas com o poder da alquimia, até os protótipos de... vida! Isso é “moldar a realidade a seu bel-prazer”, mas vai contra o “poder puro, em harmonia a natureza”._fechei o livro, sentindo uma terrível aversão do processo descrito nas páginas daquele volume. Sophia parecia igualmente chocada.

_Criar vida a partir do nada. Isso é tão errado, em tantos níveis...

Afaguei-lhe os cabelos suavemente, beijando sua fronte. Todos aqueles excertos de experiências e teorias foram, pouco a pouco, adquirindo um tom cada vez mais contraditório e nojento, ainda mais quando se tratavam de experiências com humanos. Mudamos os tomos, procurando algo menos terrível.

_Querido, creio ter encontrado algo relevante aqui._disse Sophia, quando o Sol já ia alto. Fechei o livro que folheava (e que descrevia experimentos com a Kabbalah judaica, unida à alquimia convencional), e me aproximei, para ler junto de Sophia, quando ela começou a recitar:

“16 de março. O arcebispo enfim juntou-se a nossa causa, e em nosso primeiro encontro, entregou-me os 3 manuscritos apócrifos que tinha em sua posse. Parecem-me legítimos, pois possuem o selo do Índex, prova da proibição papal. Velho idiota, sempre tentando tapar nossos olhos para a verdadeira iluminação.

Pois bem, como esperado. Um grande sacrifício é exigido para a concretização de um grande feito. Porém, é preciso ser testado. Vou convocar uma assembléia, e conseguir alguns “voluntários”. Creio que com esse experimento, estarei ainda mais próximo da Luz à qual anseio.”

_Não pode ser, Sophy... É um diário pessoal! Deixe-me ver, algumas páginas adiante.

Folheei o livro, parecendo que enfim encontráramos algo relevante. Parei em uma página a esmo e comecei a ler, em um semi-sussurro:

“28 de Outubro. Então, é pra cá que todas as rotas apontam. É uma pena que após tanto tempo de procura, seja esse o resultado de minha pesquisa. Sinto o cansaço pulsando em minhas têmporas, acredito não haver muito tempo. Eu prometi, quando era jovem e ingênuo, e essa promessa eu devo honrar, acima de qualquer outra. Foi para isso que criei a Rosa-Cruz. Foi visando o resultado dessa equação que dediquei tudo, e sou capaz de sacrificar tudo. Em breve, serei o mestre de meu destino!”

_Deus, isso é doentio...

Assenti, concordando com minha noiva, enquanto pulava para a última página escrita, como se soubesse de cor o seu conteúdo. Recuperei o fôlego, e prossegui:

_“17 de Dezembro. Hoje é a grande noite. Amanhã pela manhã, não haverá obstáculo capaz de me deter, nunca mais. A partir de amanhã, que seja feita a Minha vontade, para todo o sempre.”_ao completar a leitura, minha cabeça girou, com imagens difusas saltando e se perdendo, à meia luz. Um líquido misturado ao chá, um corpo sendo arrastado. Uma exclamação de surpresa, um par de olhos desesperados. Uma faca ensangüentada, um gemido de dor. Um esgar satisfeito. Luz.

Acordei ofegante, no chão da biblioteca. Minha noiva me abanava com um livro curto. Olhei para ela, enfim compreendendo, e exclamei:

_Dia 17 de Dezembro. Foi a noite em que ele matou Laura!