sábado, 27 de março de 2010

Crônica # 32: Grief

Tcharam! Ansiosos por esse capítulo? Espero que sim! ;)

Sem muito blablabla, só agradecemos a todos que acompanharam isso desde o início. Saibam que fizemos o possível pra entreter todos vocês, e espero que tenhamos sido bem sucedidos nessa empreitada. Mas não se preocupem, isso é só o começo!! :3

Sem mais delongas, deleitem-se!! =**


Meus olhos se turvaram no momento em que o sangue molhou o chão. O brilho da loucura nos olhos de Christian tornava-o ainda mais assustador. Minha noiva jazia inerte nos braços de seu algoz, um tremor cruzando minha face, num misto de dor e ódio pela impotência ali, preso firmemente por Elizabeth. Respirei fundo e, com um grito desesperado:

_Roberto, acabe com ela!

Senti então o sangue quente escorrendo por minhas costas, minha captora soltando com facilidade minhas mãos. Assenti para Roberto, que cravara minha espada nas costas de Elizabeth, atravessando seu peito. Peguei de volta minha espada, e fui de encontro aquele que destruíra minha vida.

_Afaste-se dela, demônio!_disse, brandindo a espada em sua direção. Christian sorria, ao largar o corpo de Sophia no chão, afastando-se alguns passos. Caí de joelhos, ao lado de minha noiva, o desespero me consumindo por dentro. Ouvi a voz de Christian, distante e suave:

_Vamos, meu filho... Tome aquilo que lhe pertence. Aquilo que lhe foi dado sem hesitação. Tome do coração que te Amou o dom supremo. A imortalidade é sua!

Segurei com firmeza o cabo de minha espada, a face oculta por sombras. Sem raciocinar ou ao menos ouvir o que meu ancestral tinha para dizer, perfurei meu pulso com a lâmina, e derramei sobre os lábios de Sophia o líquido vital.

_Acorde, por favor, acorde... Sophy, se for pra ser assim, eu prefiro que não seja...

Olhei então para Christian, resoluto. Meu ancestral me olhava com repulsa, e leve surpresa, vendo o sacrifício de meu corpo. Sustentei seu olhar reprovador por algum tempo, até que senti uma dor aguda e muito bem vinda no pulso.

As presas de Sophia entraram fundo em minha carne, e sugavam meu sangue em grandes sorvos. Sorri de alívio, mesmo sentindo a tontura causada pela falta de sangue, e a dor intensa em minha pele. Joguei minha espada a um canto, para que pudesse amparar a cabeça de minha noiva, que buscava o meu sangue, quase que desesperadamente. Fechei os olhos, a fraqueza tomando conta de mim. Sussurrei, fitando seus olhos vermelhos, selvagens:

_Tome o quanto desejar, meu Amor. Sem você, eu não preciso mais disto.

Pouco a pouco, ela foi recobrando a consciência, e ao dar-se conta da situação, soltou as presas de meu pulso, as lágrimas descendo por suas bochechas. Perguntei, reprovador, mas carinhoso.

_Sua boba... O que deu em você para agir dessa maneira?

Antes que ela pudesse responder, ouvimos a voz de Christian, fria e insana:

_Realmente, uma bela demonstração de Amor! Mas aça que ainda vão sair vivos daqui? Você me decepcionou, meu filho. Não merece ter nas veias o sangue que déia você! E você, por ter matado minha pequena Elizabeth...

Ao virar-me para ele, Christian segurava minha espada em uma das mãos, e com a outra, cobria a boca de Roberto. Sem qualquer chance de reação, deu um corte reto pelo pescoço de nosso companheiro, matando-o automaticamente. Engoli em seco, mal acreditando no que vira. Sophia, apertava minha mão, assustada.

_Maldito!_levantei-me, em uma raiva cega, e fui de encontro a ele, mesmo desarmado.Cambaleei, ainda enfraquecido com a falta de sangue, mas segui, decidido a destruí-lo.

Não serei assim tão covarde com o meu descendente._disse Christian, lançando a espada ao chão, no caminho entre nós. Peguei-a, ainda escurecida com o sangue. Estoquei velozmente, em sua direção. Antes que o atingisse, porém, uma tosca barreira de pedra se erguera em meu caminho. Por trás da construção, ouvi a voz de Christian:

_Você parece ter se esquecido de quem eu sou, garoto! Sou o maior mestre em alquimia no mundo. Nada é impossível para mim! Desista, e eu darei a você uma morte digna e indolor...

_Se há alguém aqui que vai morrer, esse alguém é você, desgraçado!_ respondi, saindo do quarto de Sophia, em perseguição. Minha noiva me alcançou, com sua adaga em uma das mãos, e a de Roberto na outra. Assenti silenciosamente, enquanto descíamos as escadas, na direção do laboratório.

Seguimos um apressado Christian, até o seu amplo escritório, onde há apenas algumas horas via uma demonstração do poder de meu ancestral. Ele agora perdera toda a austeridade anterior. Um largo sorriso na face, os cabelos bagunçados, o brilho da loucura no olhar. Com um estalo de dedos, as pedras da parede lateral se abriram, e de trás dela saiu uma criatura estranha.

_Venha minha quimera, esmague esses peões. Não preciso mais deles!_gritou Christian para o animal, uma mistura de leão e réptil, que rugiu, se preparando para avançar sobre nós. Fiquei em posição de guarda, prevendo o ataque da feroz criatura, que agora corria para nós, saltando, a boca aberta, capaz de arrancar minha cabeça com facilidade.

Abaixei-me sob seu pulo, e cortei-lhe o ventre com um só golpe. Parecera bastante fácil, o que era estranho. A criatura resfolegou, caída de lado. Porém, quase que automaticamente, os ferimentos começaram a se fechar, e a besta ergueu-se mais uma vez. Olhei de esguelha para Rozenkreuz, que tocava sua escrivaninha com a ponta dos dedos, observando a luta com um prazer doentio no rosto. A criatura recuou, e preparou um novo bote, desta vez visando minha noiva.

Ao tentar correr para ajudá-la, percebi a armadilha preparada por Christian. Meus pés não se moviam, e então notei que as pedras do chão me prendiam, imóvel. Ao que Sophia disse:

_Mika, meus pés estão presos!

Um segundo de pensamento, e decidi tirar os tênis. Christian não conseguiria manipular minha pele, afinal. Antes que pudesse alertar Sophia, vi o animal saltando, na direção dela, como fizera comigo, antes. Minha noiva arqueou as costas para trás, desviando do ataque da fera. Antes que pudesse se recuperar do ataque, Sophia se livrou dos sapatos e saltou sobre as costas do animal, decapitando-o com ambas as facas.

Virei para um consternado Christian, com a espada em punho. Avancei para ele, desejando por sua destruição. Cortei o ar, na direção de seu rosto, porém fui parado por sua própria espada, recém criada. Iniciamos então um duelo frenético, meu ancestral bloqueando meus golpes com facilidade.

_Pobre de ti, Mikhail, tendo de ser desperdiçado assim..._disse Christian, ao tentar me atacar, mas encontrando o bloqueio de minha lâmina.

_Eu ainda não perdi, “tio”._respondi com ironia, tentando encontrar uma brecha em sua defesa.

_Mas vai perder, por ter cometido um erro primário!

_Do que está falando?

_Você usa a minha espada sem minha autorização!_disse ele, e então, num golpe certeiro, partiu a lâmina de minha espada, e perfurou-me o ombro. Gemi de dor, a espada inutilizada caindo aos meus pés. A dor lacerante anuviava minha mente, e me levou a outro local...

Um senhor bem vestido jazia amarrado a uma parede, me olhando com raiva. Gritou, quando me aproximei:

_Maldito sejas! Seu manipulador, mentiroso!

_Sua ambição foi a sua queda, meu mestre... Eu disse a você que possuía a fórmula, apenas para atraí-lo até aqui. O senhor tornou-se um obstáculo para mim, com a sua ética e seus valores. A ciência deve prevalecer, sobre todas essas coisas!

_Criança tola, o que pretende fazer comigo?_o velho se debatia, impotente. Dava para ver que ele já esperava o destino que havia preparado para ele.

_O seu conhecimento tem um grande valor, e por conta disso, pouparei o seu cérebro, mestre. Porém, o resto de seu corpo é mera carcaça inútil._ao dizer isso, saquei um punhal da cintura, e preparei-me.

_Que a sua ambição também seja paga com a sua vida! Que o teu próprio sangue seja a sua queda, Chris...

_...tian Kreuz, o maior de todos os alquimistas!_completei, ao cortar-lhe a garganta._obrigado por sair do meu caminho, meu mestre. Ou talvez eu devesse dizer meu pai...?

Voltei à realidade, ainda sentindo a dor terrível da perfuração no ombro, e o frio chão sob meus pés descalços. Este novo ferimento causava ainda mais tontura. Christian ria, alucinado:

_Veja só, que vergonha! Mikhail, um jovem brilhante e promissor, capaz de grandes feitos, mal conseguindo parar em pé. Este é o seu fim, criança insolente.

E, erguendo sua espada sobre a cabeça, segurando-as com as duas mãos, meu ancestral preparava-se para o golpe final. Subitamente, um tremor sacudiu o chão.

De ambos os lados de meu inimigo, surgiram duas estacas de pedra, que se cruzaram através das mãos de Christian, perfurando-as, e mantendo-as unidas. Soltou então um grito alucinado, como se não sentisse a dor física há muito tempo. Olhei para trás, e vi Sophia, de joelhos no chão, um símbolo pintado à sua frente com o sangue da fera assassinada, um livro aberto ao seu lado. Ela encontrou meu olhar e disse, sorrindo:

_Alquimia é realmente uma ciência fantástica!_e, com uma expressão mais grave._agora acabe de uma vez com isso, querido..._lançou-me a adaga de Roberto, já sem o sangue da criatura maligna. Aproximei-me de Christian, que tentava lutar inutilmente, suas mãos sem forças para realizar um processo alquímico.

_O seu mal acaba aqui, Rozenkreuz. Faço agora a justiça, que há muito suas vítimas desejam._falava com calma e frieza. Meu ancestral rebateu:

_Seu idiota, não percebe que não há como me matar? Eu sou Christian Rozenkreuz, o imortal, o supremo!

_Você é somente um humano que já viveu demais. Ainda dói quando se fere, ainda sangra quando se corta._apontei para suas mãos inertes, perfuradas pelo poder que por tanto tempo cultivara. As estacas, tingidas de carmim, fez com que uma sombra de sanidade tocasse sua face, quando realizou sua delicada posição. Segurei-lhe o ombro e disse:

_Boa sorte, Christian Kreuz. Faço valer a maldição proferida por seu pai. Que o teu próprio sangue seja o teu fim._fiz um pequeno furo em meu dedo, com a adaga de Roberto, por onde um fino fio de sangue escorreu, sujando novamente a lâmina. Christian, antes de ter sua sentença cumprida, falou, numa voz franca:

_Me perdoe, Mikhail..._e a lâmina entrou em sua carne, sem encontrar resistência, como se meu sangue fosse um forte ácido. Perfurei seu coração num movimento suave, e no mesmo momento, os anos passaram a correr para meu inimigo em uma velocidade enorme. O tempo cobrou seu preço, consumindo todo o seu corpo em questão de segundos. Era o fim de Rozenkreuz.

A espada que ele segurava nas mãos despencou no chão, assim como eu, já muito enfraquecido. Senti Sophia me erguer e me arrastar para fora dali. Ergui-me, e subi as escadas, abraçado a ela. Levamos dali apenas a espada de Rozenkreuz, e o livro usado por minha noiva. Percebemos, ao voltar ao saguão, que a mansão já não tinha vida. Envelhecera como o próprio Christian, e estava em alto grau de degradação. Sophia, já a porta da velha casa, perguntou-me:

_O que faremos, Mika? O corpo de Roberto ainda está lá em cima. Acho que deveríamos ir buscá-lo, e dar um funeral digno para ele.

_Não, Sophy. Coloque isso nas mãos dele, e faremos um funeral a moda antiga. Vamos queimar esta casa, pois ainda há muita maldade aqui dentro. A casa de Christian Rozenkreuz, com todo o seu conhecimento, será a pira do professor Roberto._entreguei-lhe a adaga de Roberto, e esperei que Sophia voltasse.

Pouco tempo depois, colocamos fogo no subsolo da enorme mansão, e ao longe, enquanto caminhávamos de volta ao cemitério, podíamos ver a luz das chamas subindo ao céu noturno. Com a lua alta, chegamos de volta ao carro de meus avós. Sophia me colocou sentado no banco do passageiro, e sentou-se no banco do motorista.

_Me desculpe, Mika... Eu não imaginava... Christian me convenceu de que seria o melhor para você... _Sophia começou a dizer, mas eu a silenciei, abraçando-a firmemente com o braço são.

_Eu buscava a imortalidade por você, Sophia. Para que eu pudesse estar com você sempre, e não precisasse te causar dor, depois que eu me fosse. Mas, se o único jeito for perdendo você, eu prefiro morrer imediatamente._eu disse, afagando seus cabelos._Eu Amo você, mais do que a própria vida. E para sempre te Amarei, mesmo depois do fim de meu corpo...

Sophia retrucou, olhando em meus olhos, um leve sorriso nos lábios:

_Façamos diferente, meu querido. Ao invés de haver um sacrifício para que você se torne imortal... Quando chegar a sua hora, eu prometo sacrificar a minha imortalidade, para que possamos caminhar juntos, até no outro mundo.

_Então, que assim seja, Sophy, meu Amor._e, tocando seu queixo, beijei seus lábios apaixonadamente.


O legado de Christian tinha chegado ao fim, e eu desistira da imortalidade. Aproveitaria todos os anos de minha vida, ao lado de Sophia. Mesmo que não pudesse passar a eternidade do corpo ao lado da mulher que eu Amo, passaria então a eternidade da Alma ao seu lado. Mas este não é o fim da história, e sim apenas o início.

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