domingo, 20 de setembro de 2009

Crônica #5: Decisive choice

Como prometido... O capítulo 5. Ignorem o fato de a semana começar no domingo. Divirtam-se =)



Eu estava preocupada. Não que aquilo fosse realmente preocupante, apenas... Não era normal. Mas existem mistérios no mundo que estão muito além da nossa compreensão. E eu sou a prova disso. Eu sou uma vampira, uma imortal, um ser tido como mítico, no mundo dos humanos. Mas por que ele também deveria fugir ao padrão? Isso me intrigava. Tanto por eu não saber a razão daquilo, como por não saber a origem, ou o mecanismo exato como funcionava. E também porque eu escapava à regra. Mas definitivamente eu não pretendia desistir, não enquanto as respostas para as minhas perguntas ainda estivessem ocultas.
A pesquisa avançava muito lentamente. Desde que eu a começara, eu via células e mais células de vampiros sendo destruídas e fagocitadas pelos glóbulos brancos, e até mesmo pelos vermelhos, daquele que eu amava e que, para mim, até alguns dias atrás, ainda era um humano normal. Talvez normal demais, eu poderia ter suspeitado. Mas eu definitivamente não esperava algo assim acontecendo.

Mikhail continuava pesquisando, maravilhado com a perspectiva de haver, de fato, algo de oculto em relação à origem de seu estranho "poder", enquanto eu o via meramente como uma disfunção fisiológica de causa desconhecida. Mas a parte mais irônica disso tudo é que a pesquisa dele progredia mais rapidamente que a minha. E o pior: parecia mesmo que aquela história fantasiosa de sociedades secretas tinha algum fundamento. Na verdade, era algo que parecia mais concreto a cada dia, tanto pelas descobertas dele, quanto pela falta de progresso das minhas.

- Sophy, querida - dizia ele outro dia, enquanto eu estava curvada na frente do meu microscópio - Adivinha o que eu achei hoje?
- O quê?
- Alguns registros de práticas de uma sociedade da Idade Média. Para ser exato, um relato de um dos membros, que, digamos de passagem, foi queimado na fogueira. A abreviação era RK, e eles queriam uma fórmula para a imortalidade. Dizia que seu líder e fundador, um tal de C.R., andava muito quieto e se recusava a conversar muito com os outros. Por isso não há muitas informações, além do misterioso paradeiro de C.R. Talvez... Talvez ele tenha achado a tal fórmula, e fugido com ela!
- E como sabe disso? - perguntei, cética.
- Bom... Eu só estou presumindo. E se ele não quisesse dividir as descobertas com seus colegas?
- Isso me parece impossível, uma história daqueles neuróticos com mania de conspiração. Você verificou a fonte, Mika? - Ergui os olhos, encontrando os dele.
- É exatamente por isso que estou falando com você agora - ele estava com um brilho febril nos olhos - Eu achei essas informações em um livro dos Arquivos Secretos do Vaticano.

Eu parei por um momento, incapaz de esconder a surpresa. Me levantei, incrédula.

- Mas... O que você...?

Ele me olhou com carinho, e um sorriso de triunfo iminente surgiu em seus lábios. Parecia que nunca estivera tão certo de algo.

- Eu posso dizer que tenho alguma habilidade para encontrar o que não pode ser encontrado. A única condição é que esteja registrado em um computador. Além disso, apenas um pouco de paciência e dedicação resolvem.
- Você quer dizer... que invadiu a biblioteca dos Arquivos Secretos do Vaticano?!
- Bom... Eu não invadi... Apenas dei uma checada onde não devia, usando métodos que não se ensinam, de forma que ninguém soube...
- Você invadiu.
- Se prefere chamar assim... - ele sorriu, travesso, diante da minha expressão cheia de pavor e admiração, me abraçando - Não se preocupe. Não é algo que fará mal a alguém, era só uma pesquisa inocente.
- Uma pesquisa inocente sobre algo secreto - eu não pude deixar de fazer birra, a cara amarrada.

Ele riu, divertido. Depois prosseguiu, o semblante sereno.

- De qualquer forma, permanecerá em segredo. Além deles, apenas nós dois sabemos disso, e eu não pretendo contar a mais ninguém. Eu não me orgulho dos meus métodos, mas não havia outro jeito.
- Certo... - eu o abracei com carinho, as saudades finalmente me afetando acima do orgulho - Acho que assim está bem. Mas eu ainda não consigo imaginar o que esses homens fizeram, e a relação que isso poderia ter com você...
- Eu não sei explicar, mas sinto que estou muito mais ligado a eles do que parece... Por isso continuei a busca...

Mikhail me tinha bem apertada nos braços, e beijou minha testa, terno. Afinal, o tempo juntos agora era tão raro...
Estando a sala dos professores vazia, subi na ponta de meus pés e dei-lhe um beijo breve, mas carinhoso, nos lábios.

- Eu sinto muito... Você deve estar se sentindo sozinho, e achando que sou uma espécie de maníaca pelo trabalho – falei, os olhos no chão, apertando os braços ao redor do pescoço de meu amado. Ele, por sua vez, apenas sorriu, calmo.
- Tudo bem, eu entendo. Também estive pesquisando, porque quero tanto quanto você descobrir as minhas origens. Você não está fazendo nada de errado, mas... Eu realmente sinto a sua falta.
- Quero acabar logo com a pesquisa... No entanto, está sendo divertido pesquisar algo misterioso.
- É mesmo estimulante.
- E é frustrante, também – acrescentei, com um suspiro – Ainda não encontrei nada que justificasse as reações de suas células. Nem mesmo uma anomaliazinha genética.
- Eu já previa algo assim... – ele olhava pela janela, com uma expressão pensativa – Ainda acho que a origem disso está na tal Rosenkreuz. Por isso, vou continuar procurando. Devo descobrir algo novo dentro de 2 ou 3 dias.

Não demorou tanto. No dia seguinte, eu estava arrumando minha maleta prateada, no quarto, quando ouvi batidas suaves na porta . Pedi para que a visita entrasse, e lá estava Mikhail, um sorriso nos lábios.

- Eu achava que estivesse pesquisando - ele comentou, distraido, enquanto olhava os vidrinhos que eu dispunha organizadamente em minha maleta.
- Precisava de alguma distração - falei, enquanto organizava metodicamente o resto das vidrarias.
- Sophy, por acaso isso é...?

Ele se aproximou dos vidros, pegando um deles cuidadosamente entre os dedos. Ficou paralisado, ao ler a etiqueta que indicava o conteúdo do vidrinho, aparentemente inocente.

- Por que... você tem coisas assim?

Ele olhava de mim para os vidros, com algo entre perplexidade e curiosidade no rosto. Eu nunca mencionara o que havia em cada um daqueles vidrinhos, e ele também nunca prestara muita atenção a eles. Até esse dia.

- Como eu disse, precisava me distrair.

Eu sorri, satisfeita com a impressão pavorosa que meus vidrinhos mínimos causavam.

- Se distrair? Com isso? Ah, Sophy... - ele suspirou, preocupado.
- É só um hobbie. E eu uso conta-gotas.
- Eu sei, mas...
- Eu sou imortal, lembra?
- Ainda assim. Cuidado nunca é demais.
- Eu sempre tomo, querido. Sempre.

Abracei-o em seguida. Mikhail me abraçou com força. Ele acabara de descobrir mais uma das minhas esquisitices: eu colecionava venenos de plantas e animais raros. E letais.

- Você é incrível.
- Que nada. Sou só um ser mítico, com um gosto esquisito, e um senso de diversão macabro.

Rimos os dois.

- Então? - olhei-o com atenção, controlada novamente - O que veio me contar?

Sentamo-nos no chão do quarto, já que eu precisava de espaço para arrumar o restante dos vidros. Ele me ajudava a guardá-los, com cuidado, enquanto falava.

- O líder. Seu nome era Christian Rozenkreuz. Ele de fato sumiu misteriosamente, e nada se sabe sobre seu paradeiro, até hoje. Porém...

Mikhail suspirou, antes de continuar. E, por um breve momento, eu tive um pequeno vislumbre do que estava por vir.

- Descobri que ele era, originalmente, de uma família nobre alemã. Me pergunto se, por acaso, ele não retornou ao seu lugar de origem, para se esconder. É, Sophy... - ele olhou fundo em meus olhos - A sede da Rosenkreuz ficava onde hoje é a Ucrânia. Não na Alemanha.

Quase que imediatamente, entendi o que ele queria dizer. Aquilo simplesmente era coincidência demais. Tanto que não podia ser ignorado, como se fosse apenas uma lenda, ou algo do gênero. Era algo cada vez mais palpável. Cada vez mais medonho.

- Meine liebe... - fechei os olhos, me preparando para o que ia dizer - Eu desisto. Minha frente de pesquisa de fato não encontra nada que explique uma anormalidade nas suas células. Mas você está progredindo, de alguma forma. Sendo assim... Eu irei ajudar você com a sua pesquisa. Pode ser que assim cheguemos a uma resposta mais rápido.

Ele me olhou, meio incrédulo, mas sorriu, em seguida.

- Que bom. Estou contente por isso. O que a Sophy pretende fazer a seguir?
- Escrever uma carta.

Peguei rapidamente meu estojo, retirando uma caneta de tinteiro preta de que eu gostava muito, e um papel em branco. Mika me olhava, curioso.

- Uma carta? Para quem?

Eu sorri.

- Para o meu pai. Tanto como membro importante da Associação de Caçadores, quanto como parte de uma das famílias mais tradicionais da Alemanha, ele deve ter algo para nos contar. Mas mais do que isso... Ele pode nos dar a chave dessa questão.


Eu não tinha idéia do quão certa eu estava...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Poeminha nº1: Paradise

Antes que digam alguma coisa... Calma, não me engulam viva, eu prometo que posto mais um capítulo das crônicas ainda essa semana, de verdade! ._. É só que ando meio sem tempo... E hoje, bom... Vou postar apenas um pequeno poema, que escrevi durante uma aula não tão motivadora assim de botânica. Ei-lo aqui.



Paradise
(To someone.)



Another day passes by
Another gray grows dark
Looking through a window
As the clouds fly above

Smiling here and there
Faking a kind stare
A pale friendly mask
For the world's cold blood

And while people feel disgust
I simply walk home
As the stars shine just for me

And all they know turn into dust
But I am safe inside you
My last piece of paradise...




Obs.: Se virem pra traduzir ;D *corre*

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Crônica #4: Veins of obscurity

_A.. arma? O que quer dizer com isso, Sophy...?_ Perguntei espantado. Minha cabeça girava, tentando raciocinar o que acabara de ouvir saindo dos lábios de Sophia. Parecia loucura... Se bem que, até pouco tempo atrás, os vampiros que imaginava serem lenda, eram a loucura. E agora, eles não só existiam, como eu estava apaixonado por uma...
_Não sei explicar direito, ainda. _disse ela._Mas, aparentemente, suas células sanguíneas produzem uma toxina, ou algum tipo de substância extremamente mortal para nós, vampiros. O contato direto com o seu sangue é suicídio para algum de nossa espécie.
Sophia suspirou, olhando para o tubo de ensaio. Parecia ao mesmo tempo preocupada e maravilhada. Permaneci em silêncio. Minha mente vagava por tudo que conhecia da minha família, e acabei por não encontrar nada que levasse a qualquer pista sobre meu estranho “poder”. Meu maior receio, porém, era a respeito de Sophia. Perguntei então à ela:
_Mas, e quanto a você, Sophy?_Me doía a mínima idéia de ter que me afastar dela, mesmo que fosse para sua própria segurança. Eu era agora uma possível ameaça. Ela, ainda absorta em pensamentos, me disse:
_Vou precisar de mais algumas amostras, tudo bem?
Assenti com a cabeça, estendendo o braço esquerdo. Sophia retirou mais alguns tubos de meu sangue. Ao fim do processo, suspirou, dizendo-me:
_Preciso de mais tempo pesquisando, para poder formular uma teoria mais palpável sobre tudo isso, então...
_Tudo bem, eu tenho uma aula daqui a pouco. Fique a vontade, querida..._Respondi, sorrindo. A desculpa não foi percebida, tamanha era a concentração da garota. Era feriado, não haveria aula. Mesmo assim, eu ia fazer algo importante.
Caminhei para fora de seu quarto, mas antes de fechar a porta, disse, em tom irônico:
_Só tome cuidado... Esse material é extremamente instável, e de risco biológico...
Sophia me respondeu, no mesmo tom:
_Não se preocupe... Afinal, eu sou imortal, não é mesmo?
Fechei a porta às minhas costas, me preocupando, contradizendo seu pedido. Mas afinal, qual era o motivo daquilo tudo? Uma maldição, ou uma benção? Isso exigia uma investigação mais aprofundada. Mas agora, eu tinha uma pesquisa para fazer...

Corri para a biblioteca, sem nem ao menos olhar para os lados. Cumprimentei a bibliotecária, e me sentei a um computador qualquer. Não era a fonte mais adequada de informação para aquele tipo de assunto, mas era tudo que eu possuía a mão. Acessei o banco de dados online. E procurei.
Digitei "sangue", "vampiro", "decomposição celular", "maldição"... Mas nenhum resultado que valesse a pena. Decidi procurar de forma menos ortodóxa. Invadi a rede da Academia, liberando o acesso à fontes externas de informação. Continuei buscando, mas sem resultado algum, por mais concreto ou vago, real ou lendário , que fosse.
Em uma última e desesperada tentativa, escrevi "Kreuz". Um resultado que não tinha nada a ver com o nome de minha família. Rozenkreuz.
“Rosa-Cruz", pensei. Um nome interessante. Talvez valesse a pena verificar. E lá estava. A primeira informação relevante naquele oceano de inutilidades.
“Rozenkreuz é o nome de uma lendária sociedade de estudiosos da antiguidade. Seus objetivos eram desconhecidos, mas envolviam alquimia e outras ciências ocultas. Relatos datam do século XIII, porém é dito que suas origens estejam no Antigo Egito, Inglaterra Medieval ou Ásia. Nenhuma dessas foi comprovada, assim como a existência de uma sociedade com esse nome.”
Um breve relato sobre uma lenda morta, envolvendo magia oculta e impérios extintos. Loucura, ou talvez a origem desse meu poder? Talvez Sophia tivesse alguma idéia.
Corri ao quarto de Sophia, e entrei sem bater. Ledo engano. Lá estava Sophia, fazendo anotações sobre as amostras de meu sangue. E em um canto do quarto... Angelique. Engoli em seco.
Angelique sorriu, caminhando em minha direção.
_Não se preocupe, Mika... Eu já sei de tudo..._acenou, saindo do quarto._Vou dar uma volta... Tomem cuidado, vocês dois...
Sophia parecia não ter notado minha presença, então decidi me aproximar. Sophia se levantou em silêncio, e caminhou em minha direção. Abraçou-me carinhosamente. Eu sorri, abraçando-a também e fechando os olhos. Em seguida, dor! Sophia mordeu meu pescoço intensamente. Suspirei, sentindo uma pontada de dor e prazer, e como se a vida fosse se esvaindo de mim, aos poucos. Ou Sophia tinha enlouquecido, e estava se auto-destruindo, ou, tinha descoberto algo...
Subitamente, Sophia tirou suas presas de minha jugular. A sensação de calor na região e de prazer foi se esvaindo, dando lugar a uma dor incômoda, mas suportável. Olhei para Sophia, ainda incrédulo. A garota encostou os lábios em meu ouvido e disse, em um sussurro:
_Eu sou imune, Mika... Agora sei que posso beber seu sangue. Só preciso tomar cuidado pra não enlouquecer, afinal, seu cheiro é inebriante...
Sophia me abraçou forte, fechando os olhos com ternura. Eu acariciei suas costas, sorrindo. Não sabia o porquê, mas eu era inofensivo para Sophia. E isso me alegrava muito...
Eu sorri, e olhei nos olhos de Sophy. Então disse:
_Querida, eu também fiz algumas descobertas, mas...me conte, como descobriu que é imune...?
Ela sorriu, e apenas ergueu o pulso esquerdo. Vi uma fina cicatriz em seu pulso, e engoli em seco. Sophia disse com a voz doce:
_Mika... Eu precisava fazer esse teste. E descobri que qualquer vampiro que se aproximar de seu sangue morre... Menos eu. Por quê? Não sei...
Fiquei imaginando porque ela, de todos os vampiros, era imune à minha maldição. Mas... Isso não interessava no momento. O que importava era a segurança e o bem-estar dela.
_Mas, e quanto a sua descoberta, Mikhail?_Ela perguntou-me, me despertando do pequeno devaneio. Respondi de imediato:
_Rozenkreuz... O nome de uma sociedade secreta antiga, envolvida em ocultismo e alquimia. Talvez haja alguma ligação, afinal, eu sou um Kreuz... Sou amaldiçoado... E tenho interesse pelo Oculto, Sophy...
_Isso não parece ter muito fundamento, Mika... Parece um chute, um vôo cego..._disse Sophia, cética como todo cientista. Respondi com um brilho nos olhos:
_Mas é tudo o que temos, no momento. Pode ser apenas uma lenda, mas... Eu vou investigar!
Talvez eu estivesse sendo crédulo demais, ou infantil demais. Mas, de qualquer maneira, era uma pista. A Pista, já que não havia qualquer outra. E eu ia chegar ao fundo daquela história, cedo ou tarde...

Crônica #3: Bloody Secrets.

Oi pessoal, como estão? Hoje vou fazer um post duplo, com o primeiro capítulo escrito pela Pris (neste mesmo post) e o meu capítulo, no próximo post. Deixem seus comentários, sugestões, críticas e tudo o mais que acharem conveniente! Enfim, sem mais delongas, aproveitem os capítulos! Abs,

Allan.


Eu estava perplexa. Era total irresponsabilidade de minha parte ter deixado que sequer encostassem um dedo nele, ter deixado tudo isso acontecer. Eu jamais me perdoaria se a vida dele fosse posta em risco por minha causa, e, mesmo sendo um machucado simples, que, usando minhas técnicas de cura, puderam ser resolvidos rapidamente, a culpa era minha. E isso não saia da minha cabeça.
Mas eu não poderia ignorar o que aconteceu. De fato não fora ruim que houvesse ali, em Mikhail, algo que fez o vampiro que o atacou sair machucado, e afastar-se dele com tamanha pressa. O porém é que isso não era natural... Havia algo muito estranho acontecendo ali. E eu precisava descobrir o que era.

Combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte, em uma das muitas áreas livres e sombreadas da Academia, com bancos e mesas. Levei algumas planilhas de aulas, para disfarçar, caso alguém nos visse e resolvesse se aproximar. Era uma tarde ensolarada, e uma brisa agradável soprava as folhas das árvores gentilmente. Saí apressada pelos corredores, desejando mais que tudo vê-lo, tocá-lo, saber se estava bem, e devidamente recuperado. Assim que cheguei ao lugar, eu o vi, sentado em um banco de granito sob uma pessegueira, concentrado em um livro que, pude ver pelo título, tratava de algo sobre programação avançada de computadores.
- Olá, querido.... estou muito atrasada? Esperou demais por mim?
Ele ergueu os olhos para mim, fechando o livro e pondo-o de lado, um sorriso doce e verdadeiro nos lábios.
- Não esperei muito. E mesmo que tivesse esperado, cada minuto vale a pena, quando é para te ver. Você está linda, Sophy. Impecável, como sempre.
Ele se levantou, e me abraçou com força, embora brevemente, para não parecer suspeito. Não pude deixar de sorrir, corando um pouco com os elogios sinceros que me fez. Sentamos ambos, lado a lado, no banquinho.
- Está se sentindo melhor? Descansou direito? Eu sinto muito por ontem... Muito mesmo... É tudo culpa minha, você deve estar muito assustado... - falei, um tom preocupado na voz.
- Não se preocupe, querida. Eu estou bem. Dormi bastante, me sinto como novo. Quem sabe, até encare uma dessas de novo... - Mikhail disse, suave e risonho - Eu só queria entender uma coisa... Por que eles queriam te matar?
Suspirei.
- Poder, meu amor... A ganância não se restringe aos humanos. O órgão máximo de poder, no mundo da noite, é o Conselho, formado por vampiros nobres e sangues-puro. Há muita corrupção lá, e a importância dos membros é determinada pela tradição de sua família. A minha era muito tradicional... muito importante... Por isso, mandaram que nos executassem. Eu consegui escapar, graças ao meu pai adotivo, e, como estava desaparecida, fui dada como morta. Agora, descobriram que vivo, e, com medo de que eu assuma o posto de influência que me cabe no Conselho, como última representante dos Von Klaus, mandaram me matar.

Abaixei o rosto, fitando as planilhas no meu colo. Em silêncio, ele tocou o meu queixo, levantando com delicadeza meu rosto, e olhando fundo em meus olhos.
- Quero que saiba que eu não irei fugir. Eu te amo demais para ser negligente a ponto de te deixar sozinha por algo assim. Não tenho medo. O que mais quero no mundo é estar ao seu lado, Sophy... É meu dever te proteger, e eu irei cumpri-lo, mesmo que me custe a vida... Eu quero te acompanhar, quero ser a sua salvaguarda, sua espada e seu escudo, mesmo que, para isso, eu tenha de me tornar algo totalmente diferente do que sou agora...
Eu senti uma pontada de desespero. Sabia que ele estava falando sério, e seus olhos penetrantes brilhavam com determinação. Eu me senti imensamente feliz, mas, ao mesmo tempo, angustiada. Não queria colocá-lo em riscos. Incapaz de me conter, abracei-o com força.
- Obrigada, meine lieben... por tudo... - finalizei, soltando-o - Mas tente se cuidar, sim? Evite riscos desnecessários... Não se exponha demais. Eu cuidarei de quem vier atrás de mim... Afinal, foi o que eu quis desde o começo... Descobrir quem foi o responsável pela morte de meus pais...
Havia muito mais do que aquilo em jogo. Eu queria vingança, e fê-la-ia com minhas próprias mãos. Mikhail pareceu entender aquilo, e me lançou um olhar calmo e seguro.
- Eu sempre estarei aqui por você... - ele sussurrou, acariciando lenta e discretamente minha mão, e segurando-a em seguida, os dedos mornos sobre os meus.
Ficamos em silêncio por algum tempo, observando alguns alunos ao longe conversarem entre si, indo e voltando. O movimento ali era escasso, talvez pelo fato de essa ser a hora favorita deles para irem à cidade comprar coisas e fazer passeios em turma. Até que eu finalmente lembrei o que tanto me perturbara na noite anterior.
- Amor... Eu quero saber o que aconteceu, naquela hora. Por que o vampiro que te atacou afastou-se tão rapidamente, sem motivo algum aparente? O que ele fez? E o que você fez?
Ele pensou por um instante, para depois responder, virando-se para mim e me encarando com sinceridade.
- Eu não sei o que aconteceu exatamente. Eu não fiz nada. Eu acho. Ele apenas me feriu e, tocando meu sangue, pareceu sentir alguma dor. Então, me largou e foi embora.
- O seu sangue...? Mas o que será...?
Deliberei por alguns instantes, tentando encontrar uma resposta, ou ao menos alguma outra explicação para a reação exagerada do desconhecido. Talvez fosse outra a causa. Depois de pensar por um tempo que me pareceu considerável, eu lhe falei:
- Preciso ver se é mesmo isso o que acontece, querido... Mas, para tal, precisarei do seu sangue. Irei estudá-lo com maior profundidade. Tem algum problema em me dar um pouco dele?
Ele me olhou, um leve ar de surpresa no rosto. Mas respondeu sem pensar duas vezes.
- Claro, amor. Não há problema algum. Quando quer pegá-lo?
- Agora mesmo. Não há tempo a perder, quero descobrir sobre isso o quanto antes. Venha comigo... Não podemos fazer isso aqui.
- E para onde iremos?
- Para o Dormitório, querido... Iremos até o meu quarto. Lá eu tenho todo o material de que farei uso, e poderemos analisar com mais calma e sem ser incomodados.

Eu o encarei, decidida. Ele parecia ainda mais surpreso, mas balançou a cabeça, em sinal afirmativo. Levantamos os dois, e seguimos andando rapidamente.
- Esta é uma oportunidade única para fazer isso. Quase todos os alunos estão fora da Academia, e os outros senseis também saíram, já que é dia de folga. Não chamaremos atenção, pelo simples fato de que não há pessoas para terem a atenção chamada...
Guiei-o pelos corredores, e em pouquíssimo tempo já estávamos em frente à porta do quarto que era ocupado por mim e Chii, naquele momento vazio. Eu abri a porta, conduzindo-o para dentro, e tirei as sandálias delicadas que usava.
- Pode sentar-se em minha cama. É essa mais próxima da janela - eu disse, indo até o armário e tirando de lá um pequeno estojo de cedro com arabesques, o meu microscópio, e uma pequena centrífuga, e colocando-os, em seguida, em cima da cama - Eu irei precisar dessas coisas...
Ele me olhava com certa curiosidade, e um pouco de aflição. Talvez por causa da situação inusitada, ou pelo lugar onde se encontrava. Abri o estojo, tirando de dentro uma pequena seringa com uma agulha, um pedaço de algodão, e um vidrinho com álcool.
- Eu prometo que tentarei não te causar nenhuma dor... Eu te amo... Será que não tem mesmo problema...? Você pode se recusar a fazer, amor...
- Não - ele me olhou de volta, impassível - Eu farei. Quanto antes, melhor. Eu também quero saber o que aconteceu ali, e acho que isso nos dará a resposta. Confio em você, minha amada...
Mikhail me estendeu o braço, fechando os olhos. Eu corei de leve. Nunca vi alguém se entregar assim, de corpo e alma, simplesmente por amar, por acreditar em alguém. Sorri, sentindo meu coração, aquecido, palpitar de alegria. Nunca fui tão feliz.
Me aproximei dele, apoiando a mão perto de sua veia, enfiando a agulha devagar, com cuidado. O cheiro do sangue dele me atingiu repentinamente. Por um momento, senti uma sede incontrolável; eu desejava provar aquele sangue, minha alma clamava por ele, e ele parecia chamar por mim com igual intensidade, a tentação devorando voraz toda a minha resistência. Toda a minha sanidade. Foi num impulso quase heróico que retirei o sangue de que precisava, fechando imediatamente o furo da agulha em sua pele, e corri para o armário, pegando e ingerindo, sem uma gota de água, 3 pastilhas de sangue.
- Amor? Algo errado? - ele perguntou, preocupado com a minha ansiedade incomum e repentina.
- O seu sangue, Mikhail... Tem um cheiro... delicioso... - sibilei, apoiando-me no armário, uma mão na cabeça.
Ele se levantou, indo até mim. Abraçou-me forte, acariciando meu rosto, os dedos leves como o bater de asas de uma borboleta.
- Pois então saiba que todo o sangue que corre em minhas veia é também teu... Eu sou teu por inteiro... - sussurrou, me fazendo ter arrepios - Quando quiser, basta me pedir... Não se contenha. Tome o quanto quiser...
Pus minha mão em seu rosto, e, subindo na ponta dos pés, lhe dei um beijo suave nos lábios, sorrindo com ternura. Sem dizer uma palavra, coloquei o sangue em um tubo de ensaio vedado, e o coloquei na centrífuga. Quando a parte celular estava completamente separada do plasma, tirei o tubo da centrífuga, e, usando novamente a seringa, peguei um pouco do conteúdo celular, que se depositou no fundo. Ligando o microscópio, pus uma gota daquele conteúdo em uma lâmina, e, furando meu próprio dedo, pus uma gota do meu sangue, colocando, em seguida, um pouco de tintura, e pondo a lâmina em posição. Ele me observava com atenção, sentado na cama, sorrindo.
- Bom... aqui está tudo bem. Não aconteceu nada - eu falei, conclusiva.
- Por que não experimenta com amostras de outro vampiro? - ele sugeriu, me encorajando.
- Sim... posso tentar...
Peguei uma lâmina de tamanho maior, pondo, em três locais distintos, gotinhas do aglomerado das células sangüíneas de Mikhail. Eu havia guardado algumas amostras de sangue de vampiros que consegui com meu pai, para estudar, em alguns vidrinhos com conta-gotas. Peguei 3 diferentes, e, com cuidado, coloquei gotas de sangue de cada um. Adicionando a tintura, voltei para o microscópio. Mas dessa vez, algo realmente estranho aconteceu.
- Não... não pode ser possível... - eu comecei, aumentando a ampliação da imagens que via - Não pode ser... mas é...
Eu olhei para o homem que amava, ali, sentado, com um misto de surpresa e desolação. Nem eu sabia direito o que sentia. Ele me olhou de volta, preocupado.
- O que houve, querida? Algum problema?
Eu engoli em seco, sem saber exatamente o que dizer. Respirei fundo, para recomeçar a falar em seguida.
- A suas células sangüíneas... elas... não são normais. Fagocitose acelerada de células desconhecidas... Desencadeamento de processo degenerativo celular anormalmente rápido... Meu amor... Você é uma arma anti-vampiros viva...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Crônica #2: Endless Chase

Bom, vamos começar. Este é o primeiro capítulo da série "Kreuz: Chronicles of a Cursed Blood", e o segundo da saga. Daí o número 2 (duh!). Foi escrito pelo Al, de forma que o próximo capítulo será escrito por mim, e assim sucessivamente. Ou melhor, para facilitar: Quando a narração ocorrer do ponto de vista do Mikhail, então o autor é o Al, e, quando ocorrer do ponto de vista da Sophia, eu o escrevi.
Então, sem mais delongas... A estória!

Crônica #2: Endless Chase

Eu ainda não tinha concebido o fato de Sophia pertencer à um mundo que eu até pouco tempo atrás acreditava só existir nas fantasias dos livros, ou filmes. Porém, unindo os fatos às teorias já existentes, pude notar com mais clareza que existia todo um universo escondido. Mesmo assim, notei que Sophia se encaixava nos padrões. Era incrível. Extraordinária. Mas ainda havia dúvidas me perseguindo.
Passei a semana seguinte inteira perguntando tudo que pude para ela. Pelo menos durante os momentos que conseguíamos passar juntos, já que um mistério ainda persistia. O maior de todos, na minha opinião. Por que não expor nossa relação, agora que eu sabia a verdade e a aceitava (aliás, essa verdade só me tornava mais apaixonado por ela).
O fim de semana se aproximava, e com ele, mais um encontro com Sophia. Já era plena primavera, e era possível sentir o clima mais quente, porém bem temperado. Sophia me convidou para ir à uma sorveteria no centro da cidade, e eu, obviamente, aceitei sem hesitar. Iria para qualquer lugar com aquela garota. Esperei...
O sábado enfim chegou, e com ele, meu natural nervosismo tornou-se evidente. Despedi-me de meus colegas de quarto, e segui caminhando para o Centro. Comecei a pensar em arrumar um carro logo, para pelo menos poder levar Sophia de forma adequada, mas logo essa idéia foi descartada. Afinal, ainda tínhamos que manter aquilo em segredo.
Após vários minutos de caminhada, chegara à frente do lugar marcado. E ali estava ela. Sophia, linda como sempre, porém diferente. Vestia-se de forma simples, como nunca havia visto antes. Uma calça jeans azul-escura, uma blusa leve preta, e um par de tênis. Seu cabelo, elegantemente amarrado com uma fita em um longo rabo-de-cavalo. Não pude deixar de derrubar meu queixo no chão.
Lá estava ela, vestida de forma tão despojada, como eu me visto todos os dias. Porém, ela possuía uma aura de elegância única, que confirmava a teoria de que ela conseguia usar todo e quaquer tipo de roupa. Sorri ao vê-la. Ela, corando, sorriu de volta. Eu então disse:
_Você é mesmo imprevisível...
Ela riu e disse, em tom inocente:
_Por que está dizendo isso?
_Nunca imaginei você vestida dessa forma, querida..._ Respondi, pegando sua mão.
_Ah Mikhail... Decidi sair à paisana hoje..._ Rimos de seu comentário, enquanto entrávamos na pequena sorveteria. Ela então continuou:
_Sem contar que precisava provar pra você que não sou assim tão extraordinária, como me pinta...
Balancei a cabeça negativamente, beijando suavemente seu rosto.
_Você só se tornou ainda mais incrível e extraordinária quando te vi vestida assim... Não tem como, querida... Você é incrível, e o modo como se veste não tem nada a ver com isso...
Corando, Sophia apertou minha mão, quando chegamos ao balcão. Fizemos nosso pedido, e nos dirigimos à mesa mais afastada do local, que apesar de pequeno, era confortável e bem tranqüilo. Das cinco mesas, apenas duas estavam ocupadas quando chegamos. Sentamo-nos, e começamos a tomar os sorvetes, animados com aquele lindo dia.
Entre uma colherada e outra, e enquanto eu acariciava sua face delicadamente, Sophia diz:
_Tem alguma pergunta pra mim hoje, meine liebe?
Eu ri de sua pergunta, e respondi:
_Bem, na verdade tenho... É que..._mas não pude concluir meu raciocínio, pois Sophia fizera sinal para que eu me calasse. Olhei para ela, e me parecia preocupada ou atenta a algo. Subitamente ela diz, quase sussurrando:
_Aja com naturalidade.
Eu assenti com a cabeça, ao mesmo tempo em que ouvi a porta se abrindo, e um grupo de alunos da Academia entrar, conversando e rindo. Na mesma hora, meu sangue ficou mais gelado que aquele sorvete. Engoli em seco, mas segui o conselho de Sophia.
Um dos estudantes nos viu, e logo contou aos outros. Eu sorri timidamente, acenando para eles, que se aproximavam. Eu então disse, com a maior calma possível:
_Olá pessoal... Que bom ver vocês por aqui...
Por dentro, amaldiçoava todos eles, pois já não bastava ter que ficar longe de Sophia por toda a semana, ainda teria que fingir mera amizade, até no Sábado.
Comecei a tomar meu sorvete mais rapidamente, enquanto os alunos conversavam amenidades com Sophia e comigo. Ela, ao ver minha voracidade, passou a fazer o mesmo, para sairmos dali o quanto antes.
Ao fim daquele doce, nos levantamos e dissemos aos alunos:
_Desculpem, mas temos que ir agora. Reunião dos professores às sete horas, hoje ainda... Nos desejem sorte...
Ao sairmos da loja, corremos, sem rumo definido. Apenas corremos juntos, para qualquer lugar, onde poderíamos ficar juntos, sem sermos incomodados...
Corremos (já conseguia acompanhar Sophia sem tanta dificuldade) sem rumo certo, até percebermos que íamos exatamente para o bosque que visitávamos com tanta freqüência. Nosso reduto de paz e privacidade. Nosso templo. Chegamos a um ponto onde já não se ouviam carros ou vozes. Já estava começando a anoitecer, quando nos deitamos aos pés de uma árvore. Toquei no rosto dela, ainda meio sem fôlego da corrida. Disse, a voz falhando:
_Bom... Isso foi divertido, no mínimo...
Ela se limitou a sorrir, recostando a cabeça em meu peito. Acariciei seus longos cabelos, aproveitando aquele momento de extrema tranqüilidade. Sophia sempre dizia que eu a acalmava, mas a recíproca sempre foi verdadeira. Apesar de meu coração sempre acelerar ao vê-la, eu sentia como se pudesse saltar do alto de um prédio, que acabaria sem nem um arranhão. Ela me dava força, me tornava mais vivo. Ela era única.
Após vários minutos de silêncio e inocentes carícias, Sophia me olhou, um pouco mais séria do que antes.
_Ah sim... Você me disse que tinha uma dúvida, Mikhail. Pode me perguntar!
Eu suspirei, coçando a cabeça. Respondi:
_Bem, é que eu queria saber porque esconder nosso relacionamento, agora que sei que você é o que é...
A garota sorriu, beijando meu rosto. Então sussurrou, próxima ao meu ouvido:
_Preciso te proteger dos outros vampiros, querido. Existem vampiros que fariam de tudo para me machucar, até tirar o que tenho de mais valioso. E atualmente, você é o meu maior tesouro. Se algum deles se aproximar de você, nem imagino o que poderiam fazer...
Sophia abaixou a cabeça, entristecida. Eu ergui seu rosto, beijando seus lábios carinhosamente. Disse então, num sussurro:
_Meu amor... Não tem problema... Eu enfrentarei tudo, junto de você!
Ela sorriu, mas sua voz ainda parecia enfraquecida:
_Sei disso... Me desculpe por amarrar seu destino ao meu... Te amaldiçoar...
_Não diga isso!_ Eu disse _Eu escolhi esse caminho, Sophy... E agora, vou com você até o fim...

Ela olhou pra mim em silêncio. Logo depois, me abraçou forte. Parou por um momento, se levantando em seguida, parecendo assustada. Eu olhei para ela, sem saber o que dizer. Estava me levantando, quando ela disse, a voz aflita:
_Eles estão aqui... Vieram atrás de mim...
Eu olhei em volta, tentando enxergar qualquer vulto ou movimentação entre as árvores. Já era noite, e não havia lua. Uma chuva se formava, o que diminuía ainda mais a minha visibilidade humana. Sophia adquiriu uma posição defensiva, se postando à minha frente. Sua respiração estava tensa, como todo aquele clima em volta de nós dois.
Após um relâmpago, pude ver claramente cerca de três silhuetas, espalhadas, há no máximo 10 metros de distância de Sophia. Uma das vozes, rouca, disse:
_Finalmente te encontramos, Von Klaus... Finalmente...
Engoli em seco, um arrepio subindo pela minha espinha. Aquela voz com certeza não era humana. Parecia sádica e violenta. Sophia respirava fundo. Aparentemente, ia partir para o ataque. Senti-me inútil, um peso morto. Pelo menos não ia atrapalhar. Me encostei na árvore, imóvel. Mal conseguia respirar.
Os três vampiros avançaram para Sophia, ela ainda imóvel, uma aura arroxeada em volta dela. Já sabia que ela tinha habilidades relacionadas ao Elemento Espírito, mas nunca havia visto utilizá-las. O primeiro vampiro que tentou tocá-la, acabou se queimando com aquela aura. Os outros recuaram, ao ver que seria mais difícil do que parecia.
Aquele que se queimou em contato com Sophia, decidiu mudar seu alvo para mim, enquanto os outros dois distraíam a garota. O vampiro avançou velozmente na minha direção. Ofegava, aparentemente sem consciência do que fazia. Colocou a mão em meu ombro, apertando-o com força, as unhas começando a entrar em minha pele. Gemi de dor, meu sangue começando a escorrer por entre os dedos do vampiro. Pude notar Sophia se virando rapidamente para me ver, olhando de esguelha, enquanto lutava com os outros dois, acertando-os com aquela aura. Não pude ver o seu rosto com clareza, pois o líder daquele pequeno grupo estava na minha frente, o olhar fixo em mim.
Começou a aproximar o rosto do meu pescoço, mas parou. Subitamente uivou, arrancando as unhas do meu ombro e correndo de volta aos colegas, segurando a mão suja com meu sangue.
Por algum motivo, meu sangue pareceu ter queimado a mão daquele vampiro. Ele disse, a mesma voz rouca de antes:
_Aquele garoto não é normal... Deixem-no pra depois... Acabem com a Von Klaus de uma vez!
Os três partiram pra cima de Sophia, eu impotente, caído no chão. Meu braço direito tremia, a dor em meu ombro se espalhando. Minha visão estava embaçada, não conseguia ver Sophia lutando com aqueles vampiros. Só percebia aquela aura arroxeada aumentava cada vez mais, envolvendo a todos ali. Alguns minutos depois, ela encostou em meu rosto, dizendo:
_Meine Liebe... Você está bem?
Estava estático, com o rosto no chão. Meus olhos já se acostumavam com a escuridão, então, ao olhar para Sophia, pude ver seu sorriso, ao notar que eu estava bem. Ela então sussurrou, me ajudando a me levantar:
_Está tudo bem agora... Eles já foram...
Olhei em volta, ainda aflito. Depois de ver que não havia mais nenhum vulto se movendo por ali, abracei a garota, apesar da dor em meu ombro. A dor física não era nada, se comparada ao prazer que sentia ao me lançar em seus braços. Trovejou mais uma vez, e uma forte chuva começou a cair, nos molhando totalmente em poucos minutos. Sophia, se levantando, disse:
_Venha, Mikhail... Vamos voltar para a Academia... Vou cuidar do seu ferimento lá...
Eu respondi, a voz ainda fraca:
_Só não encoste no meu sangue, por favor...
Levantei-me com dificuldade, ofegando. Ela me perguntou, intrigada:
_Por quê?
_Eu não sei...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Crônica #1: Night Flowers and Revelations

Iniciemos então os capítulos da história! Primeiramente, devo esclarecer que esse capítulo é mais como um Prólogo à história. Esta foi uma one-shot (uma história de capítulo único) que escrevi, antes de começarmos a elaborar o enredo dos capítulos seguintes. Vocês perceberão que esse capítulo quase não tem ligação com a trama principal, é mais como uma apresentação dos protagonistas. Enfim, vamos a ele!


Eu sou Mikhail Kreuz, professor de Matemática da Academia Cross, e esta é uma das minhas memórias. Não a primeira, mas com certeza uma das mais importantes e marcantes. Era primavera de 20XX...


Manhã de Segunda-feira. Normalmente o sinônimo de preguiça. Abri a janela do meu quarto, sem qualquer vontade de fazer qualquer coisa. Porém, qual não foi minha surpresa quando vi um belo Sol invadindo o quarto. Finalmente, o fim do inverno chegara, e a neve dava lugar a um belo (e verde) cenário. Um segundo de pensamento depois, tive uma idéia. Mais como uma lembrança...enfim...
Depois de lavar o rosto e me trocar, mandei uma mensagem para o celular de Sophia, resumida ao máximo: “Primavera. Sair Hoje. 6 da tarde. Praça Central! Te amo!”. Não seria exatamente o pagamento daquela promessa antiga*, mas já era um começo. Fui para a sala dos professores.
Ao entrar, lá estava ela. Sophia, deslumbrante como sempre. Divina, seus olhos brilharam para mim, apenas acenei
em resposta. Não podíamos abrir nossa relação para os outros, ainda... Pelo menos fora o pedido dela. Cumprimentei os outros professores timidamente, sentando-me em um canto meio recluso.
Aparentava tranqüilidade, apesar de, na verdade, estar completamente tenso. As horas não passavam. Via os outros professores saírem, voltarem, e o tempo não passava... Eu felizmente não tinha nenhuma aula naquele dia, então pude esperar o horário do encontro sem pressa. Saí do Colégio às cinco e meia da tarde, minha mochila às costas.
Caminhei tranqüilamente em direção à praça, o lugar onde nos conhecemos. Não me esqueci daquele dia, naturalmente. Fora um dos melhores dias de minha vida, como poderia me esquecer? Mas talvez esse fosse tão marcante quanto, senão ainda mais. E foi!
Sentei-me em um dos bancos da grande Praça, esperando por Sophia. Observava curioso um bando de pássaros se juntando nos topos das árvores, tão atentamente que nem percebi a presença dela às minhas costas, dizendo:
_Olá, meine liebe...
E, pulando para o banco, me beijou o rosto carinhosamente. Estava fabulosa, como sempre, os cabelos soltos, levados pela suave brisa primaveril. Usava um vestido preto e longo, com babados e um espartilho da mesma cor. Uma gargantilha cravejada com jóias que eu nem ao menos sabia o nome, fitas negras enroladas em seus braços, terminando nos pulsos, onde se encontravam com um par de luvas de renda, completando seu conjunto. Maravilhosa, Divina... Praticamente irreal...
Após me recuperar do choque de vê-la tão elegante para um encontro casual, enquanto eu me vestira de forma tão simples, disse:
_Oi querida. Vamos?
Levantei-me, estendendo a mão para ela. Sophia tomou minha mão, e começamos a caminhar pela praça, a luz crepuscular ainda batendo na copa de algumas árvores.
_Aonde vai me levar, Mikhail?_Ela me perguntou.
_Vou pagar uma dívida que tenho com você, meu amor..._Respondi, sorrindo.
Ela me fez uma cara meio confusa, então eu sorri, como dizendo: “Espere e verá!”. Caminhávamos mais rapidamente, ela andando com uma suavidade quase espectral, sem tropeçar ou mesmo fazer barulho. Eu também até havia melhorado. Tropeçava menos, caía menos. Estava mais cauteloso, creio eu.
Saímos da praça, onde já começava um bosque. Andamos mais um pouco, por uma trilha bem plana, cercada de árvores altas. Me virei para Sophia, dizendo:
_Só mais um pouco, Sophy... Encontrei esse lugar por acaso, e precisava te mostrar...
Deixamos a trilha, subindo uma pequena colina. Chegamos ao topo quando apenas uma fina onda alaranjada podia ser vista por detrás das árvores. Boa parte das estrelas já eram visíveis no céu. Nos sentamos na grama, já na metade do caminho entre a colina e o rio. Sorri para ela, dizendo:
_Chegamos... O show já vai começar...
Ela parecia atordoada, sem saber o que esperar de mim. Olhei pro céu já azul-marinho, salpicado de estrelas, a lua começando a iluminar o topo da colina com sua luz fria, mas aconchegante. Me virei para Sophia, sorrindo. Apontei então para a beira do rio, a luz da Lua começando a tocar a água.
Foi um deslumbre. A margem do rio brilhou, um oceano de flores brancas surgindo ali. A luz da Lua cheia se mesclou ao branco daquelas flores, destacando-as ainda mais na escuridão da noite. Sophia olhava maravilhada para aquela quantidade enorme de flores, formando duas faixas de extrema alvura por toda a extensão visível do rio, quando se espantou ao ouvir um som melancólico, porém bonito.
Ao se virar de novo para mim, lá estava eu, com meu violino em mãos, tocando uma composição suave. Sorri para ela, enquanto empunhava o violino contra meu pescoço. Eu disse então em voz baixa, enquanto terminava aquela melodia:
_Chama-se Dama-da-Noite. Tanto a música como as flores...
O som do violino é naturalmente triste, mas a lágrima que escorria pelo rosto de Sophia não transparecia aquela emoção. Quando terminei de tocar, ela saltou para mim, me abraçando com força. Deixei meu instrumento de lado, abraçando-a e beijando seus lábios intensamente.
_Obrigada... _Ouvi Sophia sussurrar, sua voz maravilhosa enchendo meu peito com uma emoção indescritível. Respondi, também com um sussurro:
_Eu te amo, Sophia...
Permanecemos abraçados por um tempo incontável, quando a senti respirar fundo. Olhei em seus olhos, ela sorria, um anjo sob a luz do luar. Tocou meu rosto, e disse:
_Acho que já posso te contar o meu segredo, Mikhail..._ Olhei pra ela, surpreso. Pensei que aquela era a minha vez de surpreendê-la. Ledo engano. Ela prosseguiu. _Eu não sou um Ser-humano comum, como os outros..._ Ora, disso eu sempre tive certeza. Mas tinha mais. _Na verdade eu sou... Uma vampira...
Olhei para ela, incrédulo. Sorri, sem entender. De fato ela não parecia humana, mas daí a ser uma vampira...
_É verdade, mein liebe... Acredite..._ Disse ela. Eu olhava para ela, tentando organizar meus pensamentos, quando ela abriu a boca, um par de caninos pontiagudos sobressaíam entre aqueles dentes perfeitos. Engoli em seco:
_Não pode ser... Tudo isso... Tudo que eu li, estudei e pesquisei a vida inteira... Tudo... Era real?
Toquei o rosto dela com ambas as mãos, ainda sem acreditar que aquilo poderia ser real. Ela me olhava com um olhar espantado. Talvez ela esperasse outra reação de minha parte. Talvez ela esperasse que eu fugisse desesperado. Ao contrário, a beijei mais apaixonadamente, tomando cuidado com aqueles dentes. Quando soltamos os lábios, disse:
_Eu nunca tinha imaginado que você, uma criatura divina, um anjo, poderia ser uma vampira... Isso só a torna mais interessante, mais...atraente_ E, com sua face incrédula, completei. _Sim, eu sou um weirdo, meu amor...
Ela riu, acariciando meu rosto suavemente.
_Eu sei... E é por isso que te amo, Mikhail.
_De qualquer forma, ainda tem muita coisa pra me explicar..._ disse eu, rindo.
Nos levantamos e caminhamos abraçados por entre aquelas damas-da-noite, brilhando brancas sob a luz do luar.

*A "promessa" e a "dívida" entre eles era a de Mikhail levá-la pra ver essas flores que só abrem à noite, e tocar violino pra ela...não necessariamente nessa ordem, nem no mesmo dia, mas...