quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Crônica #4: Veins of obscurity

_A.. arma? O que quer dizer com isso, Sophy...?_ Perguntei espantado. Minha cabeça girava, tentando raciocinar o que acabara de ouvir saindo dos lábios de Sophia. Parecia loucura... Se bem que, até pouco tempo atrás, os vampiros que imaginava serem lenda, eram a loucura. E agora, eles não só existiam, como eu estava apaixonado por uma...
_Não sei explicar direito, ainda. _disse ela._Mas, aparentemente, suas células sanguíneas produzem uma toxina, ou algum tipo de substância extremamente mortal para nós, vampiros. O contato direto com o seu sangue é suicídio para algum de nossa espécie.
Sophia suspirou, olhando para o tubo de ensaio. Parecia ao mesmo tempo preocupada e maravilhada. Permaneci em silêncio. Minha mente vagava por tudo que conhecia da minha família, e acabei por não encontrar nada que levasse a qualquer pista sobre meu estranho “poder”. Meu maior receio, porém, era a respeito de Sophia. Perguntei então à ela:
_Mas, e quanto a você, Sophy?_Me doía a mínima idéia de ter que me afastar dela, mesmo que fosse para sua própria segurança. Eu era agora uma possível ameaça. Ela, ainda absorta em pensamentos, me disse:
_Vou precisar de mais algumas amostras, tudo bem?
Assenti com a cabeça, estendendo o braço esquerdo. Sophia retirou mais alguns tubos de meu sangue. Ao fim do processo, suspirou, dizendo-me:
_Preciso de mais tempo pesquisando, para poder formular uma teoria mais palpável sobre tudo isso, então...
_Tudo bem, eu tenho uma aula daqui a pouco. Fique a vontade, querida..._Respondi, sorrindo. A desculpa não foi percebida, tamanha era a concentração da garota. Era feriado, não haveria aula. Mesmo assim, eu ia fazer algo importante.
Caminhei para fora de seu quarto, mas antes de fechar a porta, disse, em tom irônico:
_Só tome cuidado... Esse material é extremamente instável, e de risco biológico...
Sophia me respondeu, no mesmo tom:
_Não se preocupe... Afinal, eu sou imortal, não é mesmo?
Fechei a porta às minhas costas, me preocupando, contradizendo seu pedido. Mas afinal, qual era o motivo daquilo tudo? Uma maldição, ou uma benção? Isso exigia uma investigação mais aprofundada. Mas agora, eu tinha uma pesquisa para fazer...

Corri para a biblioteca, sem nem ao menos olhar para os lados. Cumprimentei a bibliotecária, e me sentei a um computador qualquer. Não era a fonte mais adequada de informação para aquele tipo de assunto, mas era tudo que eu possuía a mão. Acessei o banco de dados online. E procurei.
Digitei "sangue", "vampiro", "decomposição celular", "maldição"... Mas nenhum resultado que valesse a pena. Decidi procurar de forma menos ortodóxa. Invadi a rede da Academia, liberando o acesso à fontes externas de informação. Continuei buscando, mas sem resultado algum, por mais concreto ou vago, real ou lendário , que fosse.
Em uma última e desesperada tentativa, escrevi "Kreuz". Um resultado que não tinha nada a ver com o nome de minha família. Rozenkreuz.
“Rosa-Cruz", pensei. Um nome interessante. Talvez valesse a pena verificar. E lá estava. A primeira informação relevante naquele oceano de inutilidades.
“Rozenkreuz é o nome de uma lendária sociedade de estudiosos da antiguidade. Seus objetivos eram desconhecidos, mas envolviam alquimia e outras ciências ocultas. Relatos datam do século XIII, porém é dito que suas origens estejam no Antigo Egito, Inglaterra Medieval ou Ásia. Nenhuma dessas foi comprovada, assim como a existência de uma sociedade com esse nome.”
Um breve relato sobre uma lenda morta, envolvendo magia oculta e impérios extintos. Loucura, ou talvez a origem desse meu poder? Talvez Sophia tivesse alguma idéia.
Corri ao quarto de Sophia, e entrei sem bater. Ledo engano. Lá estava Sophia, fazendo anotações sobre as amostras de meu sangue. E em um canto do quarto... Angelique. Engoli em seco.
Angelique sorriu, caminhando em minha direção.
_Não se preocupe, Mika... Eu já sei de tudo..._acenou, saindo do quarto._Vou dar uma volta... Tomem cuidado, vocês dois...
Sophia parecia não ter notado minha presença, então decidi me aproximar. Sophia se levantou em silêncio, e caminhou em minha direção. Abraçou-me carinhosamente. Eu sorri, abraçando-a também e fechando os olhos. Em seguida, dor! Sophia mordeu meu pescoço intensamente. Suspirei, sentindo uma pontada de dor e prazer, e como se a vida fosse se esvaindo de mim, aos poucos. Ou Sophia tinha enlouquecido, e estava se auto-destruindo, ou, tinha descoberto algo...
Subitamente, Sophia tirou suas presas de minha jugular. A sensação de calor na região e de prazer foi se esvaindo, dando lugar a uma dor incômoda, mas suportável. Olhei para Sophia, ainda incrédulo. A garota encostou os lábios em meu ouvido e disse, em um sussurro:
_Eu sou imune, Mika... Agora sei que posso beber seu sangue. Só preciso tomar cuidado pra não enlouquecer, afinal, seu cheiro é inebriante...
Sophia me abraçou forte, fechando os olhos com ternura. Eu acariciei suas costas, sorrindo. Não sabia o porquê, mas eu era inofensivo para Sophia. E isso me alegrava muito...
Eu sorri, e olhei nos olhos de Sophy. Então disse:
_Querida, eu também fiz algumas descobertas, mas...me conte, como descobriu que é imune...?
Ela sorriu, e apenas ergueu o pulso esquerdo. Vi uma fina cicatriz em seu pulso, e engoli em seco. Sophia disse com a voz doce:
_Mika... Eu precisava fazer esse teste. E descobri que qualquer vampiro que se aproximar de seu sangue morre... Menos eu. Por quê? Não sei...
Fiquei imaginando porque ela, de todos os vampiros, era imune à minha maldição. Mas... Isso não interessava no momento. O que importava era a segurança e o bem-estar dela.
_Mas, e quanto a sua descoberta, Mikhail?_Ela perguntou-me, me despertando do pequeno devaneio. Respondi de imediato:
_Rozenkreuz... O nome de uma sociedade secreta antiga, envolvida em ocultismo e alquimia. Talvez haja alguma ligação, afinal, eu sou um Kreuz... Sou amaldiçoado... E tenho interesse pelo Oculto, Sophy...
_Isso não parece ter muito fundamento, Mika... Parece um chute, um vôo cego..._disse Sophia, cética como todo cientista. Respondi com um brilho nos olhos:
_Mas é tudo o que temos, no momento. Pode ser apenas uma lenda, mas... Eu vou investigar!
Talvez eu estivesse sendo crédulo demais, ou infantil demais. Mas, de qualquer maneira, era uma pista. A Pista, já que não havia qualquer outra. E eu ia chegar ao fundo daquela história, cedo ou tarde...

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