domingo, 20 de setembro de 2009

Crônica #5: Decisive choice

Como prometido... O capítulo 5. Ignorem o fato de a semana começar no domingo. Divirtam-se =)



Eu estava preocupada. Não que aquilo fosse realmente preocupante, apenas... Não era normal. Mas existem mistérios no mundo que estão muito além da nossa compreensão. E eu sou a prova disso. Eu sou uma vampira, uma imortal, um ser tido como mítico, no mundo dos humanos. Mas por que ele também deveria fugir ao padrão? Isso me intrigava. Tanto por eu não saber a razão daquilo, como por não saber a origem, ou o mecanismo exato como funcionava. E também porque eu escapava à regra. Mas definitivamente eu não pretendia desistir, não enquanto as respostas para as minhas perguntas ainda estivessem ocultas.
A pesquisa avançava muito lentamente. Desde que eu a começara, eu via células e mais células de vampiros sendo destruídas e fagocitadas pelos glóbulos brancos, e até mesmo pelos vermelhos, daquele que eu amava e que, para mim, até alguns dias atrás, ainda era um humano normal. Talvez normal demais, eu poderia ter suspeitado. Mas eu definitivamente não esperava algo assim acontecendo.

Mikhail continuava pesquisando, maravilhado com a perspectiva de haver, de fato, algo de oculto em relação à origem de seu estranho "poder", enquanto eu o via meramente como uma disfunção fisiológica de causa desconhecida. Mas a parte mais irônica disso tudo é que a pesquisa dele progredia mais rapidamente que a minha. E o pior: parecia mesmo que aquela história fantasiosa de sociedades secretas tinha algum fundamento. Na verdade, era algo que parecia mais concreto a cada dia, tanto pelas descobertas dele, quanto pela falta de progresso das minhas.

- Sophy, querida - dizia ele outro dia, enquanto eu estava curvada na frente do meu microscópio - Adivinha o que eu achei hoje?
- O quê?
- Alguns registros de práticas de uma sociedade da Idade Média. Para ser exato, um relato de um dos membros, que, digamos de passagem, foi queimado na fogueira. A abreviação era RK, e eles queriam uma fórmula para a imortalidade. Dizia que seu líder e fundador, um tal de C.R., andava muito quieto e se recusava a conversar muito com os outros. Por isso não há muitas informações, além do misterioso paradeiro de C.R. Talvez... Talvez ele tenha achado a tal fórmula, e fugido com ela!
- E como sabe disso? - perguntei, cética.
- Bom... Eu só estou presumindo. E se ele não quisesse dividir as descobertas com seus colegas?
- Isso me parece impossível, uma história daqueles neuróticos com mania de conspiração. Você verificou a fonte, Mika? - Ergui os olhos, encontrando os dele.
- É exatamente por isso que estou falando com você agora - ele estava com um brilho febril nos olhos - Eu achei essas informações em um livro dos Arquivos Secretos do Vaticano.

Eu parei por um momento, incapaz de esconder a surpresa. Me levantei, incrédula.

- Mas... O que você...?

Ele me olhou com carinho, e um sorriso de triunfo iminente surgiu em seus lábios. Parecia que nunca estivera tão certo de algo.

- Eu posso dizer que tenho alguma habilidade para encontrar o que não pode ser encontrado. A única condição é que esteja registrado em um computador. Além disso, apenas um pouco de paciência e dedicação resolvem.
- Você quer dizer... que invadiu a biblioteca dos Arquivos Secretos do Vaticano?!
- Bom... Eu não invadi... Apenas dei uma checada onde não devia, usando métodos que não se ensinam, de forma que ninguém soube...
- Você invadiu.
- Se prefere chamar assim... - ele sorriu, travesso, diante da minha expressão cheia de pavor e admiração, me abraçando - Não se preocupe. Não é algo que fará mal a alguém, era só uma pesquisa inocente.
- Uma pesquisa inocente sobre algo secreto - eu não pude deixar de fazer birra, a cara amarrada.

Ele riu, divertido. Depois prosseguiu, o semblante sereno.

- De qualquer forma, permanecerá em segredo. Além deles, apenas nós dois sabemos disso, e eu não pretendo contar a mais ninguém. Eu não me orgulho dos meus métodos, mas não havia outro jeito.
- Certo... - eu o abracei com carinho, as saudades finalmente me afetando acima do orgulho - Acho que assim está bem. Mas eu ainda não consigo imaginar o que esses homens fizeram, e a relação que isso poderia ter com você...
- Eu não sei explicar, mas sinto que estou muito mais ligado a eles do que parece... Por isso continuei a busca...

Mikhail me tinha bem apertada nos braços, e beijou minha testa, terno. Afinal, o tempo juntos agora era tão raro...
Estando a sala dos professores vazia, subi na ponta de meus pés e dei-lhe um beijo breve, mas carinhoso, nos lábios.

- Eu sinto muito... Você deve estar se sentindo sozinho, e achando que sou uma espécie de maníaca pelo trabalho – falei, os olhos no chão, apertando os braços ao redor do pescoço de meu amado. Ele, por sua vez, apenas sorriu, calmo.
- Tudo bem, eu entendo. Também estive pesquisando, porque quero tanto quanto você descobrir as minhas origens. Você não está fazendo nada de errado, mas... Eu realmente sinto a sua falta.
- Quero acabar logo com a pesquisa... No entanto, está sendo divertido pesquisar algo misterioso.
- É mesmo estimulante.
- E é frustrante, também – acrescentei, com um suspiro – Ainda não encontrei nada que justificasse as reações de suas células. Nem mesmo uma anomaliazinha genética.
- Eu já previa algo assim... – ele olhava pela janela, com uma expressão pensativa – Ainda acho que a origem disso está na tal Rosenkreuz. Por isso, vou continuar procurando. Devo descobrir algo novo dentro de 2 ou 3 dias.

Não demorou tanto. No dia seguinte, eu estava arrumando minha maleta prateada, no quarto, quando ouvi batidas suaves na porta . Pedi para que a visita entrasse, e lá estava Mikhail, um sorriso nos lábios.

- Eu achava que estivesse pesquisando - ele comentou, distraido, enquanto olhava os vidrinhos que eu dispunha organizadamente em minha maleta.
- Precisava de alguma distração - falei, enquanto organizava metodicamente o resto das vidrarias.
- Sophy, por acaso isso é...?

Ele se aproximou dos vidros, pegando um deles cuidadosamente entre os dedos. Ficou paralisado, ao ler a etiqueta que indicava o conteúdo do vidrinho, aparentemente inocente.

- Por que... você tem coisas assim?

Ele olhava de mim para os vidros, com algo entre perplexidade e curiosidade no rosto. Eu nunca mencionara o que havia em cada um daqueles vidrinhos, e ele também nunca prestara muita atenção a eles. Até esse dia.

- Como eu disse, precisava me distrair.

Eu sorri, satisfeita com a impressão pavorosa que meus vidrinhos mínimos causavam.

- Se distrair? Com isso? Ah, Sophy... - ele suspirou, preocupado.
- É só um hobbie. E eu uso conta-gotas.
- Eu sei, mas...
- Eu sou imortal, lembra?
- Ainda assim. Cuidado nunca é demais.
- Eu sempre tomo, querido. Sempre.

Abracei-o em seguida. Mikhail me abraçou com força. Ele acabara de descobrir mais uma das minhas esquisitices: eu colecionava venenos de plantas e animais raros. E letais.

- Você é incrível.
- Que nada. Sou só um ser mítico, com um gosto esquisito, e um senso de diversão macabro.

Rimos os dois.

- Então? - olhei-o com atenção, controlada novamente - O que veio me contar?

Sentamo-nos no chão do quarto, já que eu precisava de espaço para arrumar o restante dos vidros. Ele me ajudava a guardá-los, com cuidado, enquanto falava.

- O líder. Seu nome era Christian Rozenkreuz. Ele de fato sumiu misteriosamente, e nada se sabe sobre seu paradeiro, até hoje. Porém...

Mikhail suspirou, antes de continuar. E, por um breve momento, eu tive um pequeno vislumbre do que estava por vir.

- Descobri que ele era, originalmente, de uma família nobre alemã. Me pergunto se, por acaso, ele não retornou ao seu lugar de origem, para se esconder. É, Sophy... - ele olhou fundo em meus olhos - A sede da Rosenkreuz ficava onde hoje é a Ucrânia. Não na Alemanha.

Quase que imediatamente, entendi o que ele queria dizer. Aquilo simplesmente era coincidência demais. Tanto que não podia ser ignorado, como se fosse apenas uma lenda, ou algo do gênero. Era algo cada vez mais palpável. Cada vez mais medonho.

- Meine liebe... - fechei os olhos, me preparando para o que ia dizer - Eu desisto. Minha frente de pesquisa de fato não encontra nada que explique uma anormalidade nas suas células. Mas você está progredindo, de alguma forma. Sendo assim... Eu irei ajudar você com a sua pesquisa. Pode ser que assim cheguemos a uma resposta mais rápido.

Ele me olhou, meio incrédulo, mas sorriu, em seguida.

- Que bom. Estou contente por isso. O que a Sophy pretende fazer a seguir?
- Escrever uma carta.

Peguei rapidamente meu estojo, retirando uma caneta de tinteiro preta de que eu gostava muito, e um papel em branco. Mika me olhava, curioso.

- Uma carta? Para quem?

Eu sorri.

- Para o meu pai. Tanto como membro importante da Associação de Caçadores, quanto como parte de uma das famílias mais tradicionais da Alemanha, ele deve ter algo para nos contar. Mas mais do que isso... Ele pode nos dar a chave dessa questão.


Eu não tinha idéia do quão certa eu estava...

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