quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Crônica #3: Bloody Secrets.

Oi pessoal, como estão? Hoje vou fazer um post duplo, com o primeiro capítulo escrito pela Pris (neste mesmo post) e o meu capítulo, no próximo post. Deixem seus comentários, sugestões, críticas e tudo o mais que acharem conveniente! Enfim, sem mais delongas, aproveitem os capítulos! Abs,

Allan.


Eu estava perplexa. Era total irresponsabilidade de minha parte ter deixado que sequer encostassem um dedo nele, ter deixado tudo isso acontecer. Eu jamais me perdoaria se a vida dele fosse posta em risco por minha causa, e, mesmo sendo um machucado simples, que, usando minhas técnicas de cura, puderam ser resolvidos rapidamente, a culpa era minha. E isso não saia da minha cabeça.
Mas eu não poderia ignorar o que aconteceu. De fato não fora ruim que houvesse ali, em Mikhail, algo que fez o vampiro que o atacou sair machucado, e afastar-se dele com tamanha pressa. O porém é que isso não era natural... Havia algo muito estranho acontecendo ali. E eu precisava descobrir o que era.

Combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte, em uma das muitas áreas livres e sombreadas da Academia, com bancos e mesas. Levei algumas planilhas de aulas, para disfarçar, caso alguém nos visse e resolvesse se aproximar. Era uma tarde ensolarada, e uma brisa agradável soprava as folhas das árvores gentilmente. Saí apressada pelos corredores, desejando mais que tudo vê-lo, tocá-lo, saber se estava bem, e devidamente recuperado. Assim que cheguei ao lugar, eu o vi, sentado em um banco de granito sob uma pessegueira, concentrado em um livro que, pude ver pelo título, tratava de algo sobre programação avançada de computadores.
- Olá, querido.... estou muito atrasada? Esperou demais por mim?
Ele ergueu os olhos para mim, fechando o livro e pondo-o de lado, um sorriso doce e verdadeiro nos lábios.
- Não esperei muito. E mesmo que tivesse esperado, cada minuto vale a pena, quando é para te ver. Você está linda, Sophy. Impecável, como sempre.
Ele se levantou, e me abraçou com força, embora brevemente, para não parecer suspeito. Não pude deixar de sorrir, corando um pouco com os elogios sinceros que me fez. Sentamos ambos, lado a lado, no banquinho.
- Está se sentindo melhor? Descansou direito? Eu sinto muito por ontem... Muito mesmo... É tudo culpa minha, você deve estar muito assustado... - falei, um tom preocupado na voz.
- Não se preocupe, querida. Eu estou bem. Dormi bastante, me sinto como novo. Quem sabe, até encare uma dessas de novo... - Mikhail disse, suave e risonho - Eu só queria entender uma coisa... Por que eles queriam te matar?
Suspirei.
- Poder, meu amor... A ganância não se restringe aos humanos. O órgão máximo de poder, no mundo da noite, é o Conselho, formado por vampiros nobres e sangues-puro. Há muita corrupção lá, e a importância dos membros é determinada pela tradição de sua família. A minha era muito tradicional... muito importante... Por isso, mandaram que nos executassem. Eu consegui escapar, graças ao meu pai adotivo, e, como estava desaparecida, fui dada como morta. Agora, descobriram que vivo, e, com medo de que eu assuma o posto de influência que me cabe no Conselho, como última representante dos Von Klaus, mandaram me matar.

Abaixei o rosto, fitando as planilhas no meu colo. Em silêncio, ele tocou o meu queixo, levantando com delicadeza meu rosto, e olhando fundo em meus olhos.
- Quero que saiba que eu não irei fugir. Eu te amo demais para ser negligente a ponto de te deixar sozinha por algo assim. Não tenho medo. O que mais quero no mundo é estar ao seu lado, Sophy... É meu dever te proteger, e eu irei cumpri-lo, mesmo que me custe a vida... Eu quero te acompanhar, quero ser a sua salvaguarda, sua espada e seu escudo, mesmo que, para isso, eu tenha de me tornar algo totalmente diferente do que sou agora...
Eu senti uma pontada de desespero. Sabia que ele estava falando sério, e seus olhos penetrantes brilhavam com determinação. Eu me senti imensamente feliz, mas, ao mesmo tempo, angustiada. Não queria colocá-lo em riscos. Incapaz de me conter, abracei-o com força.
- Obrigada, meine lieben... por tudo... - finalizei, soltando-o - Mas tente se cuidar, sim? Evite riscos desnecessários... Não se exponha demais. Eu cuidarei de quem vier atrás de mim... Afinal, foi o que eu quis desde o começo... Descobrir quem foi o responsável pela morte de meus pais...
Havia muito mais do que aquilo em jogo. Eu queria vingança, e fê-la-ia com minhas próprias mãos. Mikhail pareceu entender aquilo, e me lançou um olhar calmo e seguro.
- Eu sempre estarei aqui por você... - ele sussurrou, acariciando lenta e discretamente minha mão, e segurando-a em seguida, os dedos mornos sobre os meus.
Ficamos em silêncio por algum tempo, observando alguns alunos ao longe conversarem entre si, indo e voltando. O movimento ali era escasso, talvez pelo fato de essa ser a hora favorita deles para irem à cidade comprar coisas e fazer passeios em turma. Até que eu finalmente lembrei o que tanto me perturbara na noite anterior.
- Amor... Eu quero saber o que aconteceu, naquela hora. Por que o vampiro que te atacou afastou-se tão rapidamente, sem motivo algum aparente? O que ele fez? E o que você fez?
Ele pensou por um instante, para depois responder, virando-se para mim e me encarando com sinceridade.
- Eu não sei o que aconteceu exatamente. Eu não fiz nada. Eu acho. Ele apenas me feriu e, tocando meu sangue, pareceu sentir alguma dor. Então, me largou e foi embora.
- O seu sangue...? Mas o que será...?
Deliberei por alguns instantes, tentando encontrar uma resposta, ou ao menos alguma outra explicação para a reação exagerada do desconhecido. Talvez fosse outra a causa. Depois de pensar por um tempo que me pareceu considerável, eu lhe falei:
- Preciso ver se é mesmo isso o que acontece, querido... Mas, para tal, precisarei do seu sangue. Irei estudá-lo com maior profundidade. Tem algum problema em me dar um pouco dele?
Ele me olhou, um leve ar de surpresa no rosto. Mas respondeu sem pensar duas vezes.
- Claro, amor. Não há problema algum. Quando quer pegá-lo?
- Agora mesmo. Não há tempo a perder, quero descobrir sobre isso o quanto antes. Venha comigo... Não podemos fazer isso aqui.
- E para onde iremos?
- Para o Dormitório, querido... Iremos até o meu quarto. Lá eu tenho todo o material de que farei uso, e poderemos analisar com mais calma e sem ser incomodados.

Eu o encarei, decidida. Ele parecia ainda mais surpreso, mas balançou a cabeça, em sinal afirmativo. Levantamos os dois, e seguimos andando rapidamente.
- Esta é uma oportunidade única para fazer isso. Quase todos os alunos estão fora da Academia, e os outros senseis também saíram, já que é dia de folga. Não chamaremos atenção, pelo simples fato de que não há pessoas para terem a atenção chamada...
Guiei-o pelos corredores, e em pouquíssimo tempo já estávamos em frente à porta do quarto que era ocupado por mim e Chii, naquele momento vazio. Eu abri a porta, conduzindo-o para dentro, e tirei as sandálias delicadas que usava.
- Pode sentar-se em minha cama. É essa mais próxima da janela - eu disse, indo até o armário e tirando de lá um pequeno estojo de cedro com arabesques, o meu microscópio, e uma pequena centrífuga, e colocando-os, em seguida, em cima da cama - Eu irei precisar dessas coisas...
Ele me olhava com certa curiosidade, e um pouco de aflição. Talvez por causa da situação inusitada, ou pelo lugar onde se encontrava. Abri o estojo, tirando de dentro uma pequena seringa com uma agulha, um pedaço de algodão, e um vidrinho com álcool.
- Eu prometo que tentarei não te causar nenhuma dor... Eu te amo... Será que não tem mesmo problema...? Você pode se recusar a fazer, amor...
- Não - ele me olhou de volta, impassível - Eu farei. Quanto antes, melhor. Eu também quero saber o que aconteceu ali, e acho que isso nos dará a resposta. Confio em você, minha amada...
Mikhail me estendeu o braço, fechando os olhos. Eu corei de leve. Nunca vi alguém se entregar assim, de corpo e alma, simplesmente por amar, por acreditar em alguém. Sorri, sentindo meu coração, aquecido, palpitar de alegria. Nunca fui tão feliz.
Me aproximei dele, apoiando a mão perto de sua veia, enfiando a agulha devagar, com cuidado. O cheiro do sangue dele me atingiu repentinamente. Por um momento, senti uma sede incontrolável; eu desejava provar aquele sangue, minha alma clamava por ele, e ele parecia chamar por mim com igual intensidade, a tentação devorando voraz toda a minha resistência. Toda a minha sanidade. Foi num impulso quase heróico que retirei o sangue de que precisava, fechando imediatamente o furo da agulha em sua pele, e corri para o armário, pegando e ingerindo, sem uma gota de água, 3 pastilhas de sangue.
- Amor? Algo errado? - ele perguntou, preocupado com a minha ansiedade incomum e repentina.
- O seu sangue, Mikhail... Tem um cheiro... delicioso... - sibilei, apoiando-me no armário, uma mão na cabeça.
Ele se levantou, indo até mim. Abraçou-me forte, acariciando meu rosto, os dedos leves como o bater de asas de uma borboleta.
- Pois então saiba que todo o sangue que corre em minhas veia é também teu... Eu sou teu por inteiro... - sussurrou, me fazendo ter arrepios - Quando quiser, basta me pedir... Não se contenha. Tome o quanto quiser...
Pus minha mão em seu rosto, e, subindo na ponta dos pés, lhe dei um beijo suave nos lábios, sorrindo com ternura. Sem dizer uma palavra, coloquei o sangue em um tubo de ensaio vedado, e o coloquei na centrífuga. Quando a parte celular estava completamente separada do plasma, tirei o tubo da centrífuga, e, usando novamente a seringa, peguei um pouco do conteúdo celular, que se depositou no fundo. Ligando o microscópio, pus uma gota daquele conteúdo em uma lâmina, e, furando meu próprio dedo, pus uma gota do meu sangue, colocando, em seguida, um pouco de tintura, e pondo a lâmina em posição. Ele me observava com atenção, sentado na cama, sorrindo.
- Bom... aqui está tudo bem. Não aconteceu nada - eu falei, conclusiva.
- Por que não experimenta com amostras de outro vampiro? - ele sugeriu, me encorajando.
- Sim... posso tentar...
Peguei uma lâmina de tamanho maior, pondo, em três locais distintos, gotinhas do aglomerado das células sangüíneas de Mikhail. Eu havia guardado algumas amostras de sangue de vampiros que consegui com meu pai, para estudar, em alguns vidrinhos com conta-gotas. Peguei 3 diferentes, e, com cuidado, coloquei gotas de sangue de cada um. Adicionando a tintura, voltei para o microscópio. Mas dessa vez, algo realmente estranho aconteceu.
- Não... não pode ser possível... - eu comecei, aumentando a ampliação da imagens que via - Não pode ser... mas é...
Eu olhei para o homem que amava, ali, sentado, com um misto de surpresa e desolação. Nem eu sabia direito o que sentia. Ele me olhou de volta, preocupado.
- O que houve, querida? Algum problema?
Eu engoli em seco, sem saber exatamente o que dizer. Respirei fundo, para recomeçar a falar em seguida.
- A suas células sangüíneas... elas... não são normais. Fagocitose acelerada de células desconhecidas... Desencadeamento de processo degenerativo celular anormalmente rápido... Meu amor... Você é uma arma anti-vampiros viva...

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