sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Crônica #2: Endless Chase

Bom, vamos começar. Este é o primeiro capítulo da série "Kreuz: Chronicles of a Cursed Blood", e o segundo da saga. Daí o número 2 (duh!). Foi escrito pelo Al, de forma que o próximo capítulo será escrito por mim, e assim sucessivamente. Ou melhor, para facilitar: Quando a narração ocorrer do ponto de vista do Mikhail, então o autor é o Al, e, quando ocorrer do ponto de vista da Sophia, eu o escrevi.
Então, sem mais delongas... A estória!

Crônica #2: Endless Chase

Eu ainda não tinha concebido o fato de Sophia pertencer à um mundo que eu até pouco tempo atrás acreditava só existir nas fantasias dos livros, ou filmes. Porém, unindo os fatos às teorias já existentes, pude notar com mais clareza que existia todo um universo escondido. Mesmo assim, notei que Sophia se encaixava nos padrões. Era incrível. Extraordinária. Mas ainda havia dúvidas me perseguindo.
Passei a semana seguinte inteira perguntando tudo que pude para ela. Pelo menos durante os momentos que conseguíamos passar juntos, já que um mistério ainda persistia. O maior de todos, na minha opinião. Por que não expor nossa relação, agora que eu sabia a verdade e a aceitava (aliás, essa verdade só me tornava mais apaixonado por ela).
O fim de semana se aproximava, e com ele, mais um encontro com Sophia. Já era plena primavera, e era possível sentir o clima mais quente, porém bem temperado. Sophia me convidou para ir à uma sorveteria no centro da cidade, e eu, obviamente, aceitei sem hesitar. Iria para qualquer lugar com aquela garota. Esperei...
O sábado enfim chegou, e com ele, meu natural nervosismo tornou-se evidente. Despedi-me de meus colegas de quarto, e segui caminhando para o Centro. Comecei a pensar em arrumar um carro logo, para pelo menos poder levar Sophia de forma adequada, mas logo essa idéia foi descartada. Afinal, ainda tínhamos que manter aquilo em segredo.
Após vários minutos de caminhada, chegara à frente do lugar marcado. E ali estava ela. Sophia, linda como sempre, porém diferente. Vestia-se de forma simples, como nunca havia visto antes. Uma calça jeans azul-escura, uma blusa leve preta, e um par de tênis. Seu cabelo, elegantemente amarrado com uma fita em um longo rabo-de-cavalo. Não pude deixar de derrubar meu queixo no chão.
Lá estava ela, vestida de forma tão despojada, como eu me visto todos os dias. Porém, ela possuía uma aura de elegância única, que confirmava a teoria de que ela conseguia usar todo e quaquer tipo de roupa. Sorri ao vê-la. Ela, corando, sorriu de volta. Eu então disse:
_Você é mesmo imprevisível...
Ela riu e disse, em tom inocente:
_Por que está dizendo isso?
_Nunca imaginei você vestida dessa forma, querida..._ Respondi, pegando sua mão.
_Ah Mikhail... Decidi sair à paisana hoje..._ Rimos de seu comentário, enquanto entrávamos na pequena sorveteria. Ela então continuou:
_Sem contar que precisava provar pra você que não sou assim tão extraordinária, como me pinta...
Balancei a cabeça negativamente, beijando suavemente seu rosto.
_Você só se tornou ainda mais incrível e extraordinária quando te vi vestida assim... Não tem como, querida... Você é incrível, e o modo como se veste não tem nada a ver com isso...
Corando, Sophia apertou minha mão, quando chegamos ao balcão. Fizemos nosso pedido, e nos dirigimos à mesa mais afastada do local, que apesar de pequeno, era confortável e bem tranqüilo. Das cinco mesas, apenas duas estavam ocupadas quando chegamos. Sentamo-nos, e começamos a tomar os sorvetes, animados com aquele lindo dia.
Entre uma colherada e outra, e enquanto eu acariciava sua face delicadamente, Sophia diz:
_Tem alguma pergunta pra mim hoje, meine liebe?
Eu ri de sua pergunta, e respondi:
_Bem, na verdade tenho... É que..._mas não pude concluir meu raciocínio, pois Sophia fizera sinal para que eu me calasse. Olhei para ela, e me parecia preocupada ou atenta a algo. Subitamente ela diz, quase sussurrando:
_Aja com naturalidade.
Eu assenti com a cabeça, ao mesmo tempo em que ouvi a porta se abrindo, e um grupo de alunos da Academia entrar, conversando e rindo. Na mesma hora, meu sangue ficou mais gelado que aquele sorvete. Engoli em seco, mas segui o conselho de Sophia.
Um dos estudantes nos viu, e logo contou aos outros. Eu sorri timidamente, acenando para eles, que se aproximavam. Eu então disse, com a maior calma possível:
_Olá pessoal... Que bom ver vocês por aqui...
Por dentro, amaldiçoava todos eles, pois já não bastava ter que ficar longe de Sophia por toda a semana, ainda teria que fingir mera amizade, até no Sábado.
Comecei a tomar meu sorvete mais rapidamente, enquanto os alunos conversavam amenidades com Sophia e comigo. Ela, ao ver minha voracidade, passou a fazer o mesmo, para sairmos dali o quanto antes.
Ao fim daquele doce, nos levantamos e dissemos aos alunos:
_Desculpem, mas temos que ir agora. Reunião dos professores às sete horas, hoje ainda... Nos desejem sorte...
Ao sairmos da loja, corremos, sem rumo definido. Apenas corremos juntos, para qualquer lugar, onde poderíamos ficar juntos, sem sermos incomodados...
Corremos (já conseguia acompanhar Sophia sem tanta dificuldade) sem rumo certo, até percebermos que íamos exatamente para o bosque que visitávamos com tanta freqüência. Nosso reduto de paz e privacidade. Nosso templo. Chegamos a um ponto onde já não se ouviam carros ou vozes. Já estava começando a anoitecer, quando nos deitamos aos pés de uma árvore. Toquei no rosto dela, ainda meio sem fôlego da corrida. Disse, a voz falhando:
_Bom... Isso foi divertido, no mínimo...
Ela se limitou a sorrir, recostando a cabeça em meu peito. Acariciei seus longos cabelos, aproveitando aquele momento de extrema tranqüilidade. Sophia sempre dizia que eu a acalmava, mas a recíproca sempre foi verdadeira. Apesar de meu coração sempre acelerar ao vê-la, eu sentia como se pudesse saltar do alto de um prédio, que acabaria sem nem um arranhão. Ela me dava força, me tornava mais vivo. Ela era única.
Após vários minutos de silêncio e inocentes carícias, Sophia me olhou, um pouco mais séria do que antes.
_Ah sim... Você me disse que tinha uma dúvida, Mikhail. Pode me perguntar!
Eu suspirei, coçando a cabeça. Respondi:
_Bem, é que eu queria saber porque esconder nosso relacionamento, agora que sei que você é o que é...
A garota sorriu, beijando meu rosto. Então sussurrou, próxima ao meu ouvido:
_Preciso te proteger dos outros vampiros, querido. Existem vampiros que fariam de tudo para me machucar, até tirar o que tenho de mais valioso. E atualmente, você é o meu maior tesouro. Se algum deles se aproximar de você, nem imagino o que poderiam fazer...
Sophia abaixou a cabeça, entristecida. Eu ergui seu rosto, beijando seus lábios carinhosamente. Disse então, num sussurro:
_Meu amor... Não tem problema... Eu enfrentarei tudo, junto de você!
Ela sorriu, mas sua voz ainda parecia enfraquecida:
_Sei disso... Me desculpe por amarrar seu destino ao meu... Te amaldiçoar...
_Não diga isso!_ Eu disse _Eu escolhi esse caminho, Sophy... E agora, vou com você até o fim...

Ela olhou pra mim em silêncio. Logo depois, me abraçou forte. Parou por um momento, se levantando em seguida, parecendo assustada. Eu olhei para ela, sem saber o que dizer. Estava me levantando, quando ela disse, a voz aflita:
_Eles estão aqui... Vieram atrás de mim...
Eu olhei em volta, tentando enxergar qualquer vulto ou movimentação entre as árvores. Já era noite, e não havia lua. Uma chuva se formava, o que diminuía ainda mais a minha visibilidade humana. Sophia adquiriu uma posição defensiva, se postando à minha frente. Sua respiração estava tensa, como todo aquele clima em volta de nós dois.
Após um relâmpago, pude ver claramente cerca de três silhuetas, espalhadas, há no máximo 10 metros de distância de Sophia. Uma das vozes, rouca, disse:
_Finalmente te encontramos, Von Klaus... Finalmente...
Engoli em seco, um arrepio subindo pela minha espinha. Aquela voz com certeza não era humana. Parecia sádica e violenta. Sophia respirava fundo. Aparentemente, ia partir para o ataque. Senti-me inútil, um peso morto. Pelo menos não ia atrapalhar. Me encostei na árvore, imóvel. Mal conseguia respirar.
Os três vampiros avançaram para Sophia, ela ainda imóvel, uma aura arroxeada em volta dela. Já sabia que ela tinha habilidades relacionadas ao Elemento Espírito, mas nunca havia visto utilizá-las. O primeiro vampiro que tentou tocá-la, acabou se queimando com aquela aura. Os outros recuaram, ao ver que seria mais difícil do que parecia.
Aquele que se queimou em contato com Sophia, decidiu mudar seu alvo para mim, enquanto os outros dois distraíam a garota. O vampiro avançou velozmente na minha direção. Ofegava, aparentemente sem consciência do que fazia. Colocou a mão em meu ombro, apertando-o com força, as unhas começando a entrar em minha pele. Gemi de dor, meu sangue começando a escorrer por entre os dedos do vampiro. Pude notar Sophia se virando rapidamente para me ver, olhando de esguelha, enquanto lutava com os outros dois, acertando-os com aquela aura. Não pude ver o seu rosto com clareza, pois o líder daquele pequeno grupo estava na minha frente, o olhar fixo em mim.
Começou a aproximar o rosto do meu pescoço, mas parou. Subitamente uivou, arrancando as unhas do meu ombro e correndo de volta aos colegas, segurando a mão suja com meu sangue.
Por algum motivo, meu sangue pareceu ter queimado a mão daquele vampiro. Ele disse, a mesma voz rouca de antes:
_Aquele garoto não é normal... Deixem-no pra depois... Acabem com a Von Klaus de uma vez!
Os três partiram pra cima de Sophia, eu impotente, caído no chão. Meu braço direito tremia, a dor em meu ombro se espalhando. Minha visão estava embaçada, não conseguia ver Sophia lutando com aqueles vampiros. Só percebia aquela aura arroxeada aumentava cada vez mais, envolvendo a todos ali. Alguns minutos depois, ela encostou em meu rosto, dizendo:
_Meine Liebe... Você está bem?
Estava estático, com o rosto no chão. Meus olhos já se acostumavam com a escuridão, então, ao olhar para Sophia, pude ver seu sorriso, ao notar que eu estava bem. Ela então sussurrou, me ajudando a me levantar:
_Está tudo bem agora... Eles já foram...
Olhei em volta, ainda aflito. Depois de ver que não havia mais nenhum vulto se movendo por ali, abracei a garota, apesar da dor em meu ombro. A dor física não era nada, se comparada ao prazer que sentia ao me lançar em seus braços. Trovejou mais uma vez, e uma forte chuva começou a cair, nos molhando totalmente em poucos minutos. Sophia, se levantando, disse:
_Venha, Mikhail... Vamos voltar para a Academia... Vou cuidar do seu ferimento lá...
Eu respondi, a voz ainda fraca:
_Só não encoste no meu sangue, por favor...
Levantei-me com dificuldade, ofegando. Ela me perguntou, intrigada:
_Por quê?
_Eu não sei...

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