É, a net da praia finalmente decidiu colaborar comigo. Por isso, venho trazer, em primeira mão, o capítulo 25! Espero que gostem :3
Eu fiquei realmente impressionada. Por alguns segundos, eu não soube exatamente o que fazer. Apenas, olhava aquele homem de branco, com um misto de admiração e receio. Sim, admiração. A semelhança era imensa. Pouquíssima coisa o diferenciava de Mikhail, meu noivo, e tamanha era tal semelhança que poderíamos afirmar sem dúvidas que Mikhail seria a reencarnação de Christian Rosenkreuz, se o mesmo houvesse morrido. Mas isso era impossível. Lá estava ele, magnífico, mesmo depois de séculos. Vivo. Apesar de não ser um de meus semelhantes, e nem possuir traços de qualquer outra criatura mística que eu conhecesse - ao contrário, tinha a aparência bastante humana – ainda assim, era um imortal, de fato.
- Parecem cansados. Sinto muito por ter de trazê-los até aqui dessa forma, mas não havia meio mais rápido. Além do mais... Estava ansioso por tê-los comigo – ele sorriu para nós, e era um sorriso verdadeiro, afetuoso. Quase fraternal – Venham. Eu não lhes pretendo fazer mal.
Nós nos entreolhamos, e decidimos nos aproximar, cautelosos. Estávamos esperando pelo pior, afinal, esse era o mesmo homem que ordenara tantas mortes, em nome de suas pesquisas. O mesmo que perseguira o próprio filho, e matava seus descendentes tão logo os encontrasse. Por isso, tomei a dianteira de Roberto e Mikhail na saída, sendo a primeira a ir de encontro a Christian. O imortal me olhou com certo interesse, e me estendeu a mão. Resolvi aceitar o toque, e ver o que viria a seguir. Foi com surpresa que senti sua pele morna, humana, o que deixava claro que não era um ghoul, como os que tínhamos visto. Claro que não.
- Senhorita Von Klaus... Bem-vinda. Espero não estar chateada pela forma grosseira com que a trouxe aqui. Reconheço que não era o meio mais apropriado a uma dama – e levou minha mão aos lábios – Como forma de compensar tamanha falta de tato, oferecerei toda a minha hospitalidade.
Não sabendo exatamente o que dizer, apenas fiz um sinal afirmativo com a cabeça, séria. Em seguida, Christian se dirigiu a Roberto, e ambos apertaram mãos.
- Obrigado por ajudar Mikhail, Senhor Andolini. Sei que a Rosenkreuz é a pesquisa de sua vida, e, por isso, acho que posso contribuir com um pouco do que sei. Mas tudo em seu devido tempo, é claro.
Depois disso, então, ele se dirigiu ao meu noivo, fitando-o por um instante. Mikhail tinha no rosto uma expressão desconfiada, e parecia analisar cada passo de Christian. Estava alerta para a possibilidade de uma nova emboscada, e eu não fui a única a perceber isso. O próprio Christian, percebendo a tensão que se formara, esboçou um sorriso calmo. E então, simplesmente abraçou Mikhail.
- De todos os meus descendentes, você é o mais capaz, o mais inteligente, e o mais valoroso. Mostrou-se digno de todo o meu respeito. Eu o admiro, jovem Mikhail. Espero que possamos nos dar bem. Temos muito a conversar...
Dito isso, eles se separaram, e Christian, com uma expressão cordial, nos convidou a entrar através de outra porta, do lado oposto do laboratório. Fomos subindo por uma escadaria ampla, longa, em um corredor bem cuidado e iluminado. Não podíamos, no entanto, ver a fonte daquela luz, e não havia lâmpadas, ou fiação. O nosso anfitrião percebeu a curiosidade em nós, e foi nos explicando, durante o caminho.
- É Alquimia. Fonte de energia e luz pura, limpa e renovável. Quase eterna, eu diria. Um truque consideravelmente antigo e simples, mas seu conhecimento acabou se perdendo no tempo – ele suspirou, lamentando – Muito conhecimento de valor já foi perdido. Como pesquisador, eu luto para encontrar o que sobrou dos tempos antigos, e preservar tais achados.
- É para isso que aquele laboratório serve? Pesquisas com Alquimia antiga? – perguntou Roberto, incapaz de conter a própria curiosidade. Rosenkreuz sorriu.
- Sim, exatamente. São pequenos projetos, pequenas pesquisas, apenas para coisas simples. Os pássaros, as plantas, a luz... Tudo naquele ambiente foi gerado a partir da Alquimia. É de fato uma ciência magnífica.
Chegamos a uma porta simples, de madeira, por onde passamos, sempre atrás de Christian. No instante seguinte, estávamos numa sala espaçosa, com janelas de vidro amplas, por onde entravam a brisa e os raios do que restava do sol vespertino, já quase posto por completo. Havia uma lareira para os invernos rigorosos, e alguns móveis de madeira que, apesar de antigos, ainda ostentavam luxo e mostravam a fineza dos tempos em que foram adquiridos.
Havia telas a óleo nas paredes, também belas e antigas, e uma delas reconheci como sendo um Rembrandt. Mas essa não era a que mais me havia chamado a atenção. No meio de uma das paredes, solitária, havia pintura uma maior, um retrato de uma moça. Tinha longos cabelos louros e lisos, olhos azuis, pele muito branca, e uma expressão serena. Mesmo sendo um retrato do busto, podia-se perceber que usava um vestido fino, típico das damas nobres de alguns séculos atrás. Era linda. Uma beleza surreal.
Senti-me curiosa para saber quem era, mas não achei próprio perguntar. Tampouco deixei que o nosso anfitrião percebesse a minha curiosidade. Com o tempo, eu esqueceria o rosto daquela jovem misteriosa e bela. Mal eu sabia o quanto estava enganada.
- Eu irei levá-los aos seus aposentos... Acredito que estejam cansados e precisem de um banho antes do jantar. Não se preocupem com nada, mandei que providenciassem roupas limpas e tudo o que lhes possa ser necessário. Por favor, sigam comigo mais um pouco.
Seguimos por um lance amplo de escadas, que ficava à frente da porta de entrada para casa. No patamar superior, além de um bem iluminado corredor principal, que seguia em frente, havia uma bifurcação. Fomos pelo corredor, e, de cada lado, reparei que havia algumas portas. Havia também um vitral enorme e colorido, ocupando toda a parede ao fim do corredor. Paramos em frente à primeira porta da esquerda. Christian virou-se para nós, com uma expressão calma.
- Este será o quarto do Professor Andolini. Espero ser agradável.
Roberto seguiu adiante, abrindo a porta. Um quarto enorme nos foi revelado. Era claro, com paredes, cortinas e lençóis creme. Ele murmurou um agradecimento meio tímido, e entrou no quarto. Em seguida, o imortal nos levou para os dois quartos seguintes, abrindo suas portas, e revelando aposentos igualmente amplos, mas com paredes e lençóis de cores diferentes, nas tonalidades branca e azul claro, respectivamente.
- Este é o quarto da senhorita... – Christian gesticulou, mostrando o aposento - Por favor, sinta-se a vontade. O quarto seguinte fica para Mikhail. Creio que com isso estejam bem estabelecidos. Em duas horas, o jantar estará pronto. Assim, podem descansar um pouco, antes de conversarmos melhor – e sorriu, virando as costas e voltando pelo corredor - Até logo.
Eu olhei para meu noivo, me perguntando se estávamos mesmo seguros. Ele me olhou, determinado, e me deu um beijo na testa, antes de irmos cada um para seu quarto. E eu compreendi que não tínhamos outra escolha, a não ser ficar e ver o que nosso anfitrião desejava de nós.
domingo, 24 de janeiro de 2010
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