quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Crônica #27: Lovers

Aeee capítulo novo!!! Presente de carnaval atrasado, obaaa! Tá, tá ok, vamos parar de galinhagem u.u Eis o capítulo 27. Tomara que esteja bom :x Boa leitura!



Era uma noite de céu sem nuvens. Depois do jantar e da pequena reunião com Roberto e Mikhail, eu fui ao meu quarto, notando o pijama e o robe delicados preparados para mim. O pijama era um vestido de algodão fino, branco, com cetim e renda, muito semelhante àqueles usados pelas moças à época que Christian viveu como um humano normal, como líder da Rozenkreuz. Eu troquei de roupa, e fitei o céu pelas janelas amplas do quarto. Algum tempo depois, ouvi batidas na porta, e, abrindo-a, encontrei Elizabeth, que me sorriu, mostrando uma bandeja e, em cima da mesma, um envelope.

- Mensagem para a senhorita. Meu senhor pediu que a entregasse.

Balancei a cabeça, em sinal afirmativo, pegando o envelope. A moça agradeceu polidamente, sumindo pelo corredor em seguida. Fechei a porta do quarto, e sentei na cama, abrindo o envelope.

“Senhorita Von Klaus,

Sinto incomodá-la a esta hora da noite, mas preciso ter com a senhorita. Há alguns assuntos sobre os quais precisamos conversar. Acredito que sejam do seu interesse. Caso assim deseje, por favor, encontre-me na sala de entrada. Estarei esperando.

Sinceramente,

Christian Rozenkreuz”

Uma armadilha...? Não, não era o que parecia. Decidi descer e conferir por mim mesma.
Andei pelos corredores em meia luz, e, ao descer as escadas que levavam à sala, vi Christian ao lado da lareira. Ele contemplava as chamas crepitantes calmamente, com um ar pensativo. Quando notou a minha presença, assim que cheguei ao fim do lance de escadas, sorriu, e me indicou uma poltrona à beira do fogo, enquanto sentava-se em outra à frente da minha.

- Fico contente que tenha aceitado meu pedido e vindo me encontrar. Eu sei que ainda tem suas dúvidas em relação a mim, mas eu não pretendo lhes fazer mal algum. Quero apenas... Conversar.

Eu o encarei, e esbocei um sorriso. Se quisesse descobrir qualquer coisa, teria de dançar conforme a música que ele tocava. E isso eu sabia fazer bem.

- Não precisa se desculpar por ter me chamado. Fiquei apenas um pouco surpresa com o seu convite, mas não me incomodou. Enfim... Em que posso ajudar?
- Ah, não se preocupe com essas formalidades – ele sorriu novamente, amistoso – É a primeira vez que recebo outro imortal em minha casa. Na verdade, é a primeira vez que recebo um familiar, também. É realmente maravilhoso tê-los comigo. Mas este não é realmente o ponto... – ele suspirou – Eu estou surpreso. Como veio a conhecer meu filho?
- Eu o conheci na Academia onde ambos lecionamos. É um lugar único no mundo, por reunir humanos e toda sorte de criaturas... Inclusive nós. Obviamente, ele não sabia de nada disso, e nenhum humano normal deve saber. É, afinal, uma organização pacifista, e eu admiro o trabalho feito pelo diretor.
- Entendo... Ele quer promover a paz mostrando que é possível a convivência harmoniosa entre humanos e os demais seres. Interessante... – por um instante, ele pareceu um pouco distraído, mas recuperou o foco – Eu não sei se posso permitir a relação entre vocês dois. Como posso saber que não o está apenas usando como uma fonte dos nutrientes que vocês dessa espécie tanto precisam?

Eu o olhei, séria.

- Temos tecnologia suficiente para recusar e até mesmo abominar esse tipo de relação. E mesmo que não houvesse tal tecnologia, eu me recusaria a tomar sangue humano. Há outras fontes que podem ser usadas para isso sem maiores prejuízos.
- É claro. Sinto muito se a ofendi com a pergunta.
- Eu amo Mikhail. Eu nunca seria capaz de usá-lo.
- Certamente que não... Você até mesmo tem um pouco do cheiro dele em si. E o mesmo se aplica a ele. Tenho certeza que ele a ama. E por isso cuidam tanto um do outro... O que inclui eventuais trocas de sangue, não?

Eu corei, mas ele apenas me olhava, sorrindo afetuosamente. Então, olhou para a parede. Para a tela da moça que eu vira mais cedo, e suspirou profundamente. Olhei também para a pintura.

- Eu também já amei alguém, um dia. Era uma moça um pouco mais jovem que eu, e era linda como o sol da meia noite. Ela era tudo para mim... Era meu mundo – a voz com que ele falava era melancólica, cheia de sentimento, de saudade. Ele olhou para mim, e sorriu tristemente – Mas ela morreu. E com ela, tudo o que um dia eu pude chamar de amor. Se ao menos eu pudesse voltar no tempo...

Eu olhava aquele homem imponente, imortal, de feitos eternos. E de repente, ali, ele parecia tão pequeno, tão frágil. Tão humano. Ele fechou os olhos por um instante, recobrando o ar distante usual.

- Parecia interessada nela mais cedo. Aquela é Laura. Minha falecida esposa.

Me senti um pouco constrangida, pois Christian, afinal, percebera que eu havia reparado na pintura. Então, pude apenas sorrir, tentando confortá-lo de alguma forma.

- Ela era linda... – murmurei, olhando a tela.
- Sim. E é por isso, enfim, que não duvido que ame Mikhail. O amor que vocês têm um pelo outro se parece muito com o que havia entre nós. De qualquer forma... Vou voltar para minhas pesquisas. Já a detive por tempo suficiente – ele sorriu, levantando-se – Deve descansar agora. Amanhã devemos nos falar novamente. Boa noite, senhorita Von Klaus. E antes que eu me esqueça... A senhorita é tão linda quanto minha esposa era. Uma beleza refinada, delicada. Uma beleza imortal...

Eu também me levantei, e, sem graça, apenas balancei a cabeça, enquanto ele me sorriu uma última vez, para sumir pela porta para o seu laboratório.
E de repente, no meu caminho de volta ao meu quarto, eu lembrei das inscrições na lápide de Laura. Sim... Ela era de uma beleza imortal.

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