_Fez o trabalho de um vampiro, senhor Mikhail._disse Soren, enquanto subíamos ao escritório pelo elevador.
_Fiz o meu trabalho como o humano que sou, Soren._respondi, sorrindo._Mas creio que tenha sido fácil demais, não acha?
Soren assentiu,
_Obrigado pelo apoio na operação de hoje. Isso não passará em branco, de modo algum. Tenham certeza que farei o possível pra encontrar as respostas que vocês procuram, meus amigos.
Tão logo Soren terminou a frase, os vidros da sala começaram a estilhaçar, e o som ensurdecedor de tiros ecoou pela sala. Atirei-me sobre Sophia, lançando-nos ao chão, enquanto o vampiro se abaixava, desviando por pouco das centenas de balas que zuniam por sobre nossas cabeças.
_Um helicóptero!_gritou Sophia, tentando se fazer ouvir. Em meio à confusão, vi Soren se arrastando em direção às janelas quebradas, sem imaginar o que ele planejava. Pouco tempo depois, os tiros cessaram, e ouvimos o helicóptero aumentar as rotações, para fugir. Nesse momento, Soren ergueu a mão em um gesto furioso e disse, com a voz tranqüila, apesar de seu rosto contorcido pela raiva:
_Mjollnir!
E um clarão de luz, seguido por uma explosão, cobriram os céus de Copenhague. Sem compreender, e já ajudando Sophia a levantar-se, perguntei:
_O que foi isso, Soren?
Ao que Soren respondeu, com um cansaço aparente:
_Odeio covardes... Eu abati o helicóptero, Sophia. “Isso” foi Mjollnir, a habilidade inerente ao meu sangue imortal. O poder de causar uma tempestade, como o do deus Thor. Porém, usá-lo drena minhas forças de forma assombrosa...
Arrastou-se então para uma poltrona, e ali se atirou, exausto. Quase que imediatamente, o rádio em seu bolso tocou:
“Lorde Soren, o senhor está bem? Eles vieram sabe-se lá de onde, e atacaram de surpresa, não pudemos fazer nada, e...”
_Façamos agora, então._disse o vampiro, pressionando um botão do rádio. Aparentemente, recuperara seu modo simpático e tranqüilo, porém autoritário. _Mandem retirar aquela sucata da rua, e trocarem as janelas. Quero uma segunda equipe para me apoiar, vamos contra-atacar imediatamente!
“Sim, senhor.”
Sophia aproximou-se e perguntou, incrédula:
_Pretende sair para esse contra-ataque? Nessas condições?
_Não posso demonstrar fraqueza diante de adversidades menores, como essa. Além disso, devo mostrar aos nossos inimigos um exemplo de honra e coragem, em contraponto a covardia deles, ao atacar com armas de fogo.
_O que quer dizer com isso, Soren?_perguntei, imaginando o que ele pretendia com aquilo. Afinal, aquilo era não mais do que uma guerra não declarada, entre duas corporações.
_Ao atacá-los de frente, mostro honra e respeito por meus inimigos. Olho em seus olhos, enquanto corto-os com minha lâmina. Dessa forma, conquisto aliados. Se fosse um covarde que detona bombas ou lança mísseis na sede inimiga, não seria melhor que eles._Soren demonstrava uma paixão reverente por suas crenças, e falava delas com força e convicção. De fato, eram ideias diferentes daquelas tidas como sensatas, e por isso mesmo, devia dar certo.
_Espero contar com vocês nessa segunda operação, meus amigos.
_Infelizmente, nossas férias estão chegando ao fim, Soren. Porém, assim que pudermos, voltaremos para prosseguir com a investigação._disse Sophia, sensata. Certamente, tínhamos que voltar a Academia Cross para o novo ano letivo, mas minha grande vontade era continuar a procura pelos fatos, e descobrir os motivos daqueles que desejavam a morte de minha noiva.
Soren assentiu, e concordou em nos manter informados de qualquer novidade. Antes de nos despedirmos, deixei um pequeno tubo de vidro com meu sangue, no caso de extrema necessidade. Instruí o jovem vampiro a lançar o “veneno” contra algum inimigo que o estivesse ameaçando. Por fim, dois dias após o incidente na cobertura do escritório, embarcamos em um voo direto para o Japão.
_Querido, não está sentindo um mal estar, um enjoo?_perguntou Sophia, durante o voo.
_Não, Sophy. É um voo comum, não é? Não foi algo que comeu?
_É diferente... Uma sensação ruim, um aperto no peito. Me é familiar, de certa forma, mas ainda assim é... aterrador.
Acariciei seus cabelos e olhei-a nos olhos, preocupado. Aparentemente estava bem, porém um pouco apreensiva. Tentei acalmá-la, e por fim acabamos adormecendo por algumas horas.
Ao chegarmos ao aeroporto de Tóquio, Sophia não mais comentava do ocorrido, e aparentemente não se lembrava da presença que sentira. Pensei que talvez fosse somente uma impressão ruim, ou um receio de haver outro algoz caçando-a, mas mantive-me vigilante por todo o tempo, até entrarmos pelos portões da grande e aconchegante escola.
Mesmo de volta ao nosso lar, e a vida corriqueira como professores, o mistério maior, o porquê de tantas ameaças, ainda permanecia longe de nossas mãos. Mas não por muito tempo.