sábado, 3 de outubro de 2009

Crônica #12: The Siege

Eu segurava firmemente a adaga de Sophia, com ambas as mãos. Ela parecia pesar muito, ainda mais depois de ter cortado duas daquelas criaturas. Minions, Ghouls, ou simplesmente Zumbis. Eram serem sem vida, apenas com consciência suficiente para buscarem alimento, porém eles devem ter sentido o cheiro de Christian em mim, e começaram a se aproximar. Eu, Roberto e Sophia lutávamos, tentando nos desvencilhar daquele bando de corpos semi-vivos, quando uma passagem no fundo do laboratório se abriu, e ali, parados, estavam três seres bastante sãos, até elegantes. Sophia sibilou, se virando para olhá-los. Falou baixo, para que ouvíssemos, em sua voz um tom Ameaçador:
_São eles, Mika... Eles vieram por mim...
Um daqueles vampiros se aproximou tranquilamente, e disse, a loucura estampada em seu rosto, apenas iluminado pelas chamas na parede:
_Finalmente te encontramos, VonKlaus... E agora, não há como fugir! Você está cercada...
Olhei para a passagem pela qual aqueles três vampiros entraram, e atrás deles, uma pequena multidão de minions se aglomerava, provavelmente buscando vingança por algum dos pecados de Rozenkreuz. Segurei a adaga mais firmemente. Iria defender Sophia até a morte se fosse preciso, mesmo não gostando nada da idéia de morrer.
Os vampiros avançaram para Sophia, as presas a mostra. Roberto se ocupava com alguns minions que já se aproximavam, enquanto eu não sabia exatamente o que fazer. Corri em desespero para um dos atacantes de minha noiva, que apenas me repeliu com um movimento de mão, me atirando longe. Bati em uma prateleira com vidros de formol com pequenos seres dentro. Alguns vidros se espatifaram, fazendo pequenos cortes em minha mão. Uma das pequenas criaturas em conserva começou a dissolver, em contato com meu sangue. Ali eu tive enfim a idéia, e já reconhecia meu propósito naquela luta.
Peguei a adaga de Sophia, que caíra ali perto, e, ao ver Sophia sendo encurralada pelos vampiros, mantendo-se a salvo apenas por uma aura de defesa criada por ela, não hesitei novamente. Cravei a ponta da adaga na palma de minha mão e abri um grande corte. Corri para um dos vampiros, pulando em suas costas e tocando a mão ensangüentada em sua nuca. Ele gritou, quando o veneno de meu sangue o atingiu, e se retorceu, a boca aberta. Respirei fundo, e com o ódio de vê-los tentando matar a minha noiva, empurrei meu pulso direito contra suas presas. O vampiro bebeu meu sangue, e aquilo foi o seu fim. Ele gritou de dor, um grito furioso, como nunca tinha visto. Um urro de um animal atingido. Ele caiu no chão, se retorcendo, e então me virei para os outros dois, que agora me olhavam incrédulos. Meu semblante tinha mudado completamente, meu sangue agora manchava o chão, minhas mãos e meu rosto. Eu ofegava, mas não tirava os olhos dos algozes de minha futura esposa.
Ela, vendo que os inimigos se distraíram, criou pequenas lâminas que emitiam uma luz arroxeada, lançando-a na direção dos inimigos. Um deles conseguiu se desviar, enquanto o outro recebeu-a no pescoço, caindo no chão em seguida. Eu, vendo que meu sangue era uma arma efetiva, joguei a adaga de Sophia, embebida em meu sangue, para que Roberto continuasse sua luta contra as fileiras incessantes de minions, que se aproximavam cada vez mais.
O terceiro vampiro, aparentemente o mais forte deles, sorriu, porém seus olhos ainda traíam a incredulidade daquele pequeno grupo afinal, ser tão resistente.
_Você anda com pessoas estranhas, VonKlaus. Pensa que vai sobreviver, mesmo com esses dois seguranças? Tola, vocês estão em menor número, e apesar do poder desse garoto, não há sangue suficiente para deter essa horda de zumbis... É incrível, vocês vieram exatamente para uma cripta cheia de mortos-vivos, sedentos por sangue. Mas enfim, eu mesmo vou matá-la, e levar sua cabeça em uma bandeja, para o meu senhor.
Sophia então disse para mim, vendo que Roberto já não agüentava mais cortar aquelas criaturas:
_Mika... Vá e ajude o Roberto, enquanto eu mesma cuido desse aqui... Sobreviva, por favor...
Eu assenti, a contragosto. Mas Sophia estava certa, não podíamos nos dar ao luxo de perder o nosso guia, e eu já conhecia as capacidades de minha noiva. Sabia que ela venceria. Ou queria acreditar que seria assim. Me virei e me pus ao lado de Roberto. Ele sorriu, me entregando a adaga de Sophia. Eu recusei, e puxei da pulseira três agulhas. Agora saberia se meu sogro me ajudou ou não.
Eu olhei para Roberto, e este assentiu, como se estivesse pronto para a próxima onda. Passei as pontas das agulhas por meu ferimento e as atirei, sem técnica ou jeito. Elas apenas resvalaram nos minions, mas isso foi suficiente para que gritassem de dor. Vi que ao menos meu sangue era útil, em um momento como aquele. Enquanto isso, às minhas costas, um brilho arroxeado iluminava as paredes e o teto, e eu sabia que Sophia estava se esforçando ao máximo, também.
_Isso é loucura! É como um filme dos anos 70, um pesadelo! Como fomos chegar a tal ponto?_Roberto perguntou, a voz de desespero camuflada pela adrenalina somente experimentada em momentos como esse, entre a vida e a morte.
_Longa história, professor! Melhor explicar depois! Agora... foco!!_respondi, sacando mais três agulhas, mas dessa vez colocando-as entre os dedos. Daríamos um ataque mais longo, (ou mais desesperado), na tentativa de fechar aquela passagem. Gritando uma espécie de grunhido de batalha, corremos e cortamos através daqueles Minions, que murmuravam em uma língua desconhecida, mas que eu, de alguma forma, podia compreender. Eles clamavam por meu sangue, ou pelo sangue de Rozenkreuz, mais provavelmente.
Roberto começou a girar a manivela da porta, enquanto eu lhe dava cobertura. As senbon serviam como garras desajeitadas, que eu usava com certa insegurança. Provavelmente meu sangue fazia a maior parte do trabalho, enquanto perfurava e rasgava a carne daquelas criaturas.
Enfim a porta foi selada, e os minions contidos. Quando me virei para o foco da luz arroxeada, onde Sophia lutava com seu adversário, vi algo que nunca antes pensei que pudesse existir. Era uma Sophia que eu não conhecia.
Completamente selvagem, envolta em uma aura de luz fria, os cabelos negros revoltos, um brilho vermelho e assassino nos olhos. Presas a mostra, estava meio curvada e segurava uma espécie de lâmina, feita com a mesma luz que a envolvia. Seu braço esquerdo pendia, ensangüentado. Seu oponente tinha a aparência ainda mais animalesca e feroz, e segurava uma espada física, a lâmina reluzindo a aura de Sophia.
_Ah Deus, o que ela é?_perguntou Roberto, olhando-a incrédula.
_São vampiros, professor... _respondi, despertando de meu devaneio. Ver Sophia daquele jeito foi um choque, mas de alguma forma, ela tinha algo de atraente, mesmo na forma menos racional. Talvez fosse o poder vampiro, ou talvez fosse apenas o meu amor, conhecendo uma nova faceta de sua amada.
Ao ser despertado, me lembrei do motivo pelo qual tudo aquilo havia saído ao controle. Peguei o livro que havia derrubado, no início do ataque e o abri, enquanto Sophia se digladiava com seu oponente. E ali, no centro do livro, como se esperasse a minha chegada, estava uma chave, intacta, conservada pelo tempo. Guardei a chave no bolso, e pude ver o final da luta. Sophia desarmou seu oponente e atravessou sua mão, agora chamejando com sua energia roxa, pelo estômago de seu rival. Ele, soltando um último gemido de dor, foi se esvaindo até tornar-se pó, junto dos minions e de seus comparsas. Ao fim da luta, Sophia caiu sobre os joelhos, respirando fundo. A aura que a envolvia foi quebrada, e ela, agora no chão, permanecia com a cabeça baixa, fitando o chão.
Aproximei-me dela e a abracei forte. Ela ainda respirava profundamente, tentando voltar ao normal, quando subitamente senti suas presas cravando-se em meu pescoço. Prendi a respiração, contendo a ardência que sentira com a mordida, mas deixei-me levar pela sede de minha amada, e apenas permaneci ali, esperando que ela se satisfizesse.

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