Eu ouvia o barulho abafado do chuveiro, enquanto organizava as coisas que pegamos em nossa investida àquele laboratório. Após algum tempo observando a bela espada que descobrimos, decidi fazer uma surpresa para Sophia. Liguei para a recepção do Hotel, pedindo por uma essência de rosas para o banho de minha noiva. Certamente ela adoraria.
Quando a essência chegou, entrei cuidadosamente no banheiro, e então vi a cena terrível: Sophia, a pele branca à mostra, caída no banheiro, o sangue tingindo a água de vermelho, enquanto descia pelo ralo. Corri a ela, verificando sua pulsação. Estava inconsciente, mas tinha pulso e respiração. Peguei-a nos braços cuidadosamente, tão nervoso que estava nem me preocupei ao ver seu corpo. Coloquei-a na cama, cobrindo seu corpo com uma toalha. Os ferimentos, eu pude perceber ali, não fechavam, mesmo com as capacidades curativas naturais de um vampiro. Seria necessário dar alguns pontos, para auxiliar na recuperação. E foi o que decidi fazer.
Encontrei o necessário em minha mala. Agulha, linha, água, panos limpos. Fechei os olhos, respirei fundo, e então comecei. Desinfetei o local do ferimento, e, tremendo, iniciei o procedimento.
_Ah, Deus... Sophy, me desculpe... _repetia para mim mesmo, enquanto a agulha perfurava a pele de minha noiva. Pouco a pouco, fui fazendo os pontos, unindo novamente a pele rasgada. Ao fim, cortei o restante da linha, e fiz uma compressa na testa de Sophia, pois havia um pouco de febre. Deitei-me ao seu lado, fechei os olhos e pedi, como nunca havia pedido antes, pela recuperação de Sophia.
Após algum tempo de desespero e medo, abraçado à Sophia, acabei adormecendo. E, novamente, sonhei...
Estava em um cemitério, ajoelhado em frente a uma lápide. Os dois anéis de Safira reluziam em minhas mãos, enquanto eu segurava firmemente a lápide. Encostei a testa na pedra fria e disse, um sorriso maligno na face:
_Você serviu perfeitamente aos meus propósitos, meu bem... Você me deu tudo! Tudo que eu sempre desejei... É uma pena que não possa mais me ver, querida. Espero que esteja orgulhosa.
Ouvi um trovão. Uma tempestade se aproximava. Ouvi passos, muitos passos. Estavam atrás de mim. Ergui-me imponente, a capa preta que usara mais cedo na reunião ainda impecável. Montei em um cavalo e fugi, para longe dali. Para a obscuridade...
Acordei tranqüilo, sem sobressalto, porém perturbado como sempre. Não tinha conseguido ler o nome na lápide, mas sabia que Christian tinha fugido dali. E, percebia agora, Sophia também.
Levantei-me, olhando ao redor. Sem sinal dela. Foi quando a porta do banheiro se abriu, e ali estava ela, linda como sempre, um suave perfume de rosas permeando o ar. Corri a abraçá-la, acariciando suavemente seu rosto.
_Sophy... Como está se sentindo?
_Bem... Foi apenas um mal-estar. Obrigada por ter cuidado de mim, Mika.._ela dizia, a voz ainda um pouco fraca.
_Deus, eu fiquei tão preocupado... Eu não sabia o que fazer... Eu...
Sophia me silenciou com um beijo suave e demorado nos lábios. Abracei-a com cuidado, passando os dedos por seus cabelos ainda molhados. Ela agora vestia um robe com pequenas flores bordadas e sorria, olhando em meus olhos. Disse-me, os olhos ainda fixos:
_Desculpe-me tê-lo preocupado, Mika... Naquela hora eu ainda estava enfraquecida, só precisava descansar. Acordei quando já me sentia melhor, e decidi ir terminar o meu banho, enquanto você dormia...
Mais calmo, eu apenas pude sorrir, e colocar meu rosto junto ao dela. Sentia o perfume doce de rosas que exalava de seu corpo, e beijei seu rosto com carinho.
_Eu Amo você, Sophy... E percebi, que se for embora, eu não saberei mais o que fazer. Sem você eu perco o rumo, para sempre...
Uma pequena lágrima desceu pelo rosto de minha noiva, que segurou firmemente em minha mão. Ela então respondeu, me puxando, de volta para a cama:
_Não se preocupe, Mika... Eu nunca deixarei de estar ao seu lado. Sempre estarei junto a ti, porque eu também te Amo.
Sorri, deitando-me novamente, com Sophia ao meu lado. Abraçamo-nos, e pude perceber, então que de fato, Sophia era uma vampira imortal. E eu, apenas um humano com tempo limitado. Nunca havia pensado nisso, ou aceitado essa idéia. Mas, de súbito, ela pareceu tão próxima, tão fria. Eu precisava encontrar um meio, para poder ficar junto de Sophia, até o fim dos tempos. Mas não ali, não naquele momento.
Fitava o teto, um pouco desligado, e então Sophia deslizou para o meu peito, apoiando a cabeça ali. Eu passei então a acariciar seus cabelos lentamente, enquanto minha mente tentava conceber uma fórmula de imortalidade. Talvez encontrar um vampiro de sangue puro, e fazer com que ele me morda. Ou encontrar algum outro jeito. Isso acabara de se tornar um objetivo. Uma obsessão se fosse preciso.
“Eu juro que encontrarei um meio de estar contigo para sempre, Sophy...” Pensei e suspirei, quando fui cutucado nas costelas por ela, que disse a voz baixa, um sorriso nos lábios:
_E quem deu ordem de você entrar no banheiro enquanto eu tomava banho, hein? Só pra me olhar, não é?
E começou a fazer cócegas em minhas costelas, me tirando de vez daquele devaneio. Ria alto, enquanto acompanhava Sophia em sua brincadeira. E sem que tivéssemos percebido, nosso Amor se intensificara naquela noite, como nunca antes. Tornou-se ainda mais forte, mais necessário para a nossa existência. Talvez fosse nos momentos de maior dificuldade que percebemos o quanto aqueles junto a nós nos são importantes.
De qualquer forma, após alguns momentos divertidos, acabamos adormecendo novamente, só despertando na manhã seguinte, totalmente revigorados.
sábado, 3 de outubro de 2009
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