- Bom dia, querido!
Mikhail piscou os olhos com força, e depois sorriu para mim, ainda meio sonolento. Eu já estava pronta para sairmos de novo, e havia pedido para servirem nosso café-da-manhã no quarto. Ele sentou na cama, olhando a bandeja que eu pusera em seu colo.
- Café-da-manhã na cama?
- Sim – falei, sentando ao lado dele, e lhe dando um beijo na bochecha – É um agradecimento por ontem. Eu já estou quase curada – e afastei um pouco a blusa que usava, exibindo, no lugar onde fora feito o ferimento, apenas um pequeno arranhão.
- Obrigado... – ele sorriu, meio sem graça, enquanto se servia de uma fatia de torrada com geléia de morangos – Mas como conseguiu se curar tão rápido, Sophy? Quero dizer, ontem estava muito pior...
- Ah, isso... – eu suspirei – Bom, eu dormi bem, e também teve o seu sangue. Acho que, além da quantidade relativamente grande que tomei, ele ajudou na recuperação de forma decisiva. Ao que parece, ele demora um pouco mais para ser absorvido pelo meu corpo, mas os resultados são incríveis. Sem ele, uma ferida de tamanho igual só sararia em quatro ou cinco dias... Então, obrigada.
Mikhail tocou meu rosto suavemente.
- Eu fico muito feliz por ter ajudado. Eu só queria que ficasse bem, Sophy...
- Eu sei... Obrigada, de verdade... – encostei a cabeça no ombro dele, fechando os olhos – Mas sabe, Mika... Tem algo me incomodando, em relação ao seu sangue...
- Sim?
- Essa propriedade de cura dele em mim. Há algo que produz um efeito muito semelhante, embora eu nunca tenha experimentado...
- E o que é essa coisa, Sophy? – ele me ofereceu uma torrada com geléia, que peguei e mordi, engolindo antes de prosseguir.
- Sangue de vampiros. Há registros literários sobre o que o consumo do sangue de outros vampiros pode nos causar. São relatados maiores índices de vitalidade, ganho de novos poderes e aumento nas capacidades de recuperação e cura. No entanto, essa prática foi, há muito tempo, proibida, e é, hoje, um tabu. Um problema ético. Mas pensar nessa possibilidade implica numa série de incoerências. A começar pelo fato de você ser humano... Não um normal, mas, ainda assim, um humano.
Mikhail olhou para o armário, onde estava a sua nova espada, tomou um gole de suco, e suspirou.
- Se eu não sou um humano, e nem um vampiro... O que eu sou?
Eu sorri, abraçando-o.
- Um ser indefinido? Eu não sei. É por isso que estamos aqui. Para descobrir sobre você.
Ele também me abraçou, sorrindo.
Tendo feito todos os preparativos e finalmente prontos, fomos até o saguão de entrada do hotel, onde encontramos Andolini, que também acabara de sair do quarto.
- Bom dia, vocês! Já decidiram o tour de hoje?
- Acho que sei aonde podemos ir... – falou meu noivo, pensando – Há algum cemitério antigo por aqui?
- Antigos, hum... Da data a qual nos reportamos e que continue numa localização acessível, apenas um. E mesmo assim...
- O que?
- Já foi um lugar fantástico. Apenas elite e pessoas importantes da época. Mas hoje, ele foi esquecido. Só há ruínas. Mas não há erro, é para lá que vamos.
Fomos para fora do hotel e pegamos um táxi, indo ao subúrbio. O passeio nos levou ao lado oposto da cidade, num bairro mais alto e com poucas casas, todas em estilo antigo. Descemos em frente a um casarão arruinado pelo tempo, e fomos andando até os restos de um portão enorme, de ferro, preso a duas colunas de pedra gasta, um pouco recuado da estrada.
Andolini empurrou o portão que, com um rangido, se abriu, exibindo uma área plana, com túmulos encobertos por capim, mas, pelo que era possível perceber, ricamente adornados, no passado. Hoje, eram apenas uma sombra do que já foram.
Olhei ao redor, distraída, andando lentamente entre as lápides. Enquanto isso, Roberto murmurava uma prece aos que jaziam esquecidos naquele campo. Notei Mikhail inquieto, subindo na ponta dos pés, e olhando para os lados. Procurando por algo que já sabia o que era.
Não demorou até ele achar esse algo. E correu. Em direção a uma lápide isolada, à sombra sinistra de um grande salgueiro. Um salgueiro que parecia chorar.
sábado, 3 de outubro de 2009
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