sábado, 3 de outubro de 2009

Crônica #16: Family Traces

Corri o mais rápido que pude, quando achei ter encontrado a lápide do sonho. Corri por entre os túmulos, sem medo de acabar pisando acidentalmente em algum deles. Ao fim da corrida, lá estava, a lápide que segurara na noite anterior. Retirei o musgo, que se acumulou em cima do nome, em uma mescla de desespero e ansiedade.
Sophia, que tivera mais cuidado ao pisar na casa dos mortos, chegara, e agora olhava para aquela lápide, apreensiva do que poderia ter chamado a minha atenção. Roberto sentara-se em um mausoléu próximo, e observava à distância. Quando terminei a limpeza, pude ver claramente o nome gravado naquela pedra. “Laura Kreuz, cientista, esposa e mãe carinhosa. Eternamente Bela”, a data de seu nascimento e morte.
Ao terminar de ler a escritura, li novamente. Não foi nem o fato de essa Laura ter o meu sobrenome que me assombrou, mas sim a palavra mãe, gravada no mármore. Chamei minha noive e Roberto para verem, e Roberto pôde explicar o que eu mais ou menos sabia:
_Laura foi a esposa de Christian. Aquela mesmo, que dizem que ele matou. Mas o que me chama a atenção é esse “mãe”. Não sabia disso.
Dei de ombros e disse, me levantando:
_Imaginei que fosse a esposa dele, mas também não sabia que tiveram um filho. Talvez ele seja um dos meus antepassados. Mas enfim, onde podemos encontrar mais sobre isso?_ e, antes que o professor pudesse responder, e vendo o rosto intrigado de Sophia, concluí _Não Sophy. Eu não faço idéia de como sabia dessa lápide. Simplesmente... Encontrei...
Sophia segurou meu braço e disse quase num sussurro:
_ Isso me assusta, Mika...
Antes que pudesse replicar, Roberto interrompeu, com uma idéia:
_Talvez na biblioteca municipal, possamos encontrar registros de pessoas da cidade, como essa “família Kreuz”, quem sabe?
Assentimos, e tomamos um táxi até a biblioteca. Uma curta viagem, a lá estávamos. Fomos orientados pela simpática bibliotecária, que nos mostrou o caminho até os arquivos antigos. Em uma grande sala empoeirada, utilizamos da única ferramenta para buscas: Um computador pré-histórico. Começamos pelo mais óbvio. “Kreuz”. Nenhum resultado, e um Roberto reclamando “Acham que já não fiz isso?”. Procurando por “Laura”, encontramos algumas centenas. Limitando para a época que a nossa Laura nascera, os resultados foram poucas dezenas. Registros de casamentos, talvez.
Fomos até a seção de registros de casamento, e lá estava o casal Laura Castella e Christian Kreuz. Com o nome de solteira de minha provável antepassada, voltamos ao velho computador. Encontramos identidade, registro de nascimento, e finalmente, maternidade. “David Castella Kreuz, filho de Laura Kreuz e Christian Kreuz”. Estranhamente, pelo computador, não era possível encontrar qualquer resultado, ao digitar “Kreuz”. Mas os arquivos estavam todos lá. Perdidos, em uma salinha suja.
_Não me lembro de nenhum parente chamado David... _disse, relendo a certidão de nascimento do filho de Christian. Roberto replicou, guardando alguns dos arquivos em suas prateleiras:
_É, um pouco difícil, já que faz tanto tempo... Achou mais alguma coisa, Sophia?
_Algo interessante, aqui. Registro de matrícula em um internato na Gasconha._ Ela respondeu, os olhos ainda no documento. Cocei a cabeça e perguntei, mais pra mim mesmo do que para os outros:
_Próxima parada, França?
_Faz sentido. Christian pode ter matado sua esposa, matado seus seguidores no laboratório, e fugido para a França, para ir buscar seu filho. Afinal, seus laços de influência se estendiam já por toda a Europa. Teria aliados na Gasconha, com certeza_ Disse Roberto, começando a se animar com a nova pista. Sophia disse então, com um sorriso radiante nos lábios:
_Próxima parada, França!

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